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terça-feira, 15 de setembro de 2015

CINEMA PARADISO: SOBRE O AMOR

O amor vira madrasta ao nos perceber para fora de seu reflexo. Espelhos são frágeis, não negam beleza a quem os pode quebrar - só que não somos espelhos.

Hoje, enquanto retornava para casa, fui observando cegamente o mundo – meus olhos se voltaram para dentro, para as memórias. Tomado pela trilha sonora do filme Cinema Paradiso, composta pelo maestro Ennio Morricone, acabei saindo dali. O carro até parecia me dirigir, ao invés do contrário. Bom, acho que entrei no modo piloto automático (e quem não desliga de vez em quando?). Na estrada, perigoso, preciso dizer. Contudo, naquele momento, o aleatório do som parou para brincar comigo, fez-me andar, andado pelo veículo que me conduzia. O automóvel levava meu corpo, meu corpo levava aquela história que, por sua vez, transportava-a para um ponto inventado de certas recordações que carrego. Nem sei como cheguei em casa, inclusive. Coisa de bêbado – eu sei que pensou nisso.
A música me levou para outro tempo, para um filminho só meu. Pensei, fiz analogias entre a obra e o que se passa/passou na vida. No filme (o do Cinema), Salvatore se apaixona explosivamente por uma moça, ambos jovens. O tempo correu. Consegue parar um rio? Pois então, não é diferente disso. Ele nunca mais a viu. Pobre garoto, sem dúvidas passou a vida apaixonado (o que este “não-ver-mais” ajudou, e muito, a engordar). Amou uma imagem, ou a senhorita? Sim, ele foi tocado, e todos são tocados pelos próprios tambores, deve ser isso. Mas e o coração dela, tamborilou?
Sempre o mesmo: procuramos o amor, mas encontrar-se nele é que é um achado. Só amamos quando aprendemos, desaprendemos e reaprendemos a afinar todas as cordas de nossas razões, ultrapassando aquelas imagens que amamos à distância. Contrário a isso, o que se pensava amor acaba, pois nos damos conta de que, não sendo uma cópia fiel de nós, o outro é capaz de existir sozinho, ela/ele não é pueril, ninguém é. Quebrando o egoísmo, quebra-se o encanto. Mesmo sabendo que ele (o amor) é uma doença estranha e que não sabemos direito de onde vem. Se do corpo, se da alma, se da imaginação... O problema é que sabemos muito bem sobre a cura – e o pensamento sobre a cura, quanto mais profundo, é que nos ‘enfebra’ ainda mais.
Voltando ao que estava dizendo, os filmes (no que incluo os meus), através da música, me fizeram visitar um lugar onde só existe dentro de mim mesmo. Se isso tudo aconteceu também para fora? Sim, algumas coisas sim, o restou tornou-se a mais pura verdade, porque fui eu mesmo que inventei.  E quem nunca viveu um grande amor? 

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