Não julgueis,
para que não sejais julgados.
(Matheus 7:1).
Gênio. Joaquim Maria Machado
de Assis é genial. Digo no presente porque sim, a cada leitura, ele continua a
existir – e ainda insiste, com suas bruxarias, em conservar-se no tempo como um
Shakespeare só nosso. O mestre, para não deixar dúvidas de sua eternidade,
perpetuou uma inquietação que atravessou o século e até ele mesmo (refiro-me a
sua parte mortal, a do corpo): “Afinal de contas, Capitu é culpada ou inocente?” Pois então.
Alguém sabe? Vou contar sobre o caminho que me percorreu (sim, não errei, o tal
questionamento me percorreu mesmo!).
Acompanhem:
Há alguns anos, – encantado
pela literatura machadiana – resolvi reler todos os contos e também os romances dele (só os Realistas, não me perguntem o porquê). Neles, óbvio, algo me chamou
atenção: os nomes. E existe até uma nomenclatura para esse tipo de estudo,
chama-se onomástica. Difícil, não é? Eu que o diga. Enfim, com isso, percebi
que havia um mundo inteiro morando ali, naqueles batismos, e que, a cada
personagem que se desenhava, o nome afinava sua personalidade. Querem saber de
alguns? Aí vai: “Fulano Bertão” (fulano, BELTRANO, sicrano); também, se
observarem com calma, todos os que lembram leão: Leonor, Leonardo... cada qual
carregando certo oportunismo felino; “Lucrécia”, do latim lucretia, que significa “aquela que precisa gerar lucro” (sobre uma
menina negra que trabalhava para uma senhora, do conto “O caso da vara”); entre
outros. Bom, não me delongo, há universos e universos a serem espiados em cada
entranha daqueles escritos.
Está bem, continuando,
vou ficar com o que me causou mais espanto, pois, havendo anotado e analisado
cada personagem (intuitivamente, claro!), cheguei até o mais evidente, o Dom casmurro. “Bento Santiago, te peguei!”
– pensei enquanto abria um sorriso para ninguém ver. “Santo e Iago, hum!”
Bom, explico: sabendo que
Machado era um shakespeariano de carteirinha, vou expor só um personagem dele
(do Willian): o Iago, de “Otelo”. Ele (o Iago) é o veneno da obra, fez Otelo
matar Desdêmona, sua esposa. Acho que não preciso falar mais. Sabendo que Santo
é o oposto de Iago, o que podemos esperar de uma narrativa que é toda descrita
por um ser que tem na essência essa mistura? Bento Santiago, homem intrigante!
Um Casmurro bipolar que, decepcionado com o mundo, nos faz crer que o amor de
sua vida o traiu. Não é à toa que Capitolina lembra capeta, e Desdêmona, demônio.
Diadorim, esta foi a diaba cunhada por Guimarães Rosa (esta fica para outro
texto). Mas voltando ao assunto. Ah, essas mulheres e seus feitiços infernais! Precisamos
cuidar. Todas – cada uma delas – possuem olhos oblíquos e dissimulados. Vide os
espíritos tortos e embaraçados de nosso ‘sofrido’ casmurrão.
Julgamento? Mas não
precisamos das duas partes para efetuar o embate? Saibam que qualquer bandido
tem esse direito. Conseguem citar uma só fala (que não seja das memórias
duvidosas de Bentinho) na qual ela revele o que pensa sobre isso? O seu ponto
de vista? Ela é a vítima, meus amigos! Claro que não encontrarão o lado avesso,
já que a obra toda acontece dentro das recordações de um desconfiado da vida. O
lado dela quem conta, ora é o Santo, ora é o Iago. Ambos desafinados pelo tom
vitimado daquele Casmurro tão triste.
Perante a estes fatos,
qual seria o seu veredito?
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