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terça-feira, 29 de setembro de 2015

CARPE DIEM

Tuas lonjuras estão infestadas de logo alis.

Há dias em que o Sol parece não brilhar como deveria. O problema é a falta de luz, não a do astro. Refiro-me aquele escuro de dentro da gente, lugarzinho ruim de clarear. E quem nunca se pegou assim? Perdeu-se assim? Apagou-se assim? Frestas? Sim, às vezes é preciso redescobrir fissuras para que o mundo possa nos iluminar com algum fiapo. Mesmo não encontrando brechas, tente abrir outras frinchas, arejar-se, rasgar-se até os ossos, se for necessário. Fácil? Nada fácil! Justo por ser este um exercício repetitivo, diário e complicado, já que jamais voltaremos a ser os mesmo que fomos ontem. Não sendo iguais, fica difícil esperar que os demais, igualmente, sejam recebidos pelas novas versões do que foram no dia anterior, uma vez que até o Sol renasce como outro a cada amanhecer. Há muitos “Sóis”!
Contudo, sei bem, iluminar-se é uma missão quase cinematográfica. Talvez porque – sem nos darmos conta – abafemos os poros no final de cada um daqueles dias tenebrosos (e quem nunca teve um?). Entender? Não se trata de apenas entender. Acho que guardar os problemas em algum cantinho seja a melhor saída, uma boa medida para se livrar, por hora, de algo que nos aflige, mais tarde o pegamos – claro! Depois sim é que vem a compreensão (eu disse com-pre-en-são: ‘entender com’, ‘junto de’...), que é quase o equivalente a um ler-se, reler-se, tresler-se, livrar-se da escuridão que nos prende àqueles pensamentos que não pertence ao “ali”, mas ao “lá”. Autoajuda? Nada, é autoconstrução. Afinal, acabamos sendo um bocado de pessoas por debaixo de nossas peles – todos querendo respirar, sair da cegueira de ter visto demais o “de menos”.
Pois é, o mundo deve ser feito de sombras que se revezam na luz e, tal como o coração, o Sol, indiferente desse lado escuro, não sabe desligar, as coisas é que giram. O jeito é rogar para que os escuros possam ser bem mais do que um silêncio, que sejam silêncios a espera de vozes e ‘palpitações’ afinadas para o giro de outras canções.
Quanto aos momentos mais sombrios, costumo – confesso – pôr uma música (em geral uma sinfonia) e fechar os olhos enquanto ouço. Entendendo pouco do gênero, sinto jorrar as cores que se distribuem dentro de um lago bem iluminado. Igualzinho a um tambor que pulula ao ser arremetido por uma baqueta qualquer. Relaxo.  Ah! A saída tem sido essas imagens que se embebedam de algumas notas. Das feridas, fazem-se aberturas. Das aberturas, entradas francas que não sangram mais, que se regozijam com um suspiro leve ao recordar da existência de meu próprio instante de carpe diem

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