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terça-feira, 1 de setembro de 2015

UM MUNDO SEM PROFESSORES...

Quero só um caderno, uma caneta e um professor. Isso me basta para mudar o mundo.
(Malala)

‘Só Eu Posso’ era um lugar onde as coisas ‘desaconteciam’. Por lá, todos andavam nus – e este estar-pelado nada tinha a ver com roupas ou sapatos. Nesse aspecto, todos viviam até cobertos, já que suas vergonhas deviam estar devidamente tapadas. A nudez estava na falta de palavras. Na grande cidadezinha, a pequenez que a fazia, logicamente, “inha”, estava no vazio. Livros estavam proibidos. Música, só as permitidas, nada de hinos ou canções. Havia até um decreto no qual devia ser extinta toda e qualquer forma de literatura, entendeu-se o perigo que a arte carregava. Em “Só Eu Posso”, além das roupas, somente se permitiam o uso de chapéus. No entanto, servia apenas para esconder o buraco que cada cidadão exibia para si mesmo, pelo menos quando sozinhos. O prefeito, Dr. Loboto Mia, sabia que o ‘não-saber’ precisava prevalecer. A política do “ocar cabeças” fazia-se importante. Legalidade que anunciava o seguinte: “todos devem submeter a si próprio e aos filhos a uma cirurgia corretiva.”  
Há muito que ele (Loboto) andava exibindo sua histórica “salvei vocês”. A ordem teria acontecido já em seu primeiro decreto, na sempre lembrada implantação: “Professores devem ser extintos e suas memórias apagadas da existência. As inquietações, estas madrastas, serão duramente combatidas.” Então, o motivo do iminente implante se fez claro quando o último educador, segundos antes de ser morto, bradou: “Nós podemos mudar ‘Só Eu Posso’...” – quando booom!!! Desfaleceu.
Desde então, para o alívio do prefeito, a paz prevaleceu. Todos aprenderam a viver com pouco, trabalhar muito e desembolsar mais ainda. As rendas chegaram a um número tão incontável que foi necessário criar um depósito. Mas onde? Quando um ministro deu a solução: “Há muitas Escolas, vamos usá-las como paiol.” Acalentados pelo ‘desssaber’, o povo mostrava-se satisfeito com a decisão, uma vez que não escutavam nem suas desapropriadas barrigas ‘desengordando’ de fome, acostumaram-se.
Contudo, naturalmente, a desafinação aconteceu. Aquele ensaio sobre a surdez mostrou-se finalmente completo, virou algo ensurdecedor. O roncar vibrou tão barulhento que foi ouvido de dentro do palácio do prefeito que, sem tirar o pijama, foi até ao centro da praça e decretou outra de suas medidas:
“Cidadãos ‘sóeupossenses’, devido a tanta ‘barulhação’, está decidido. A partir de hoje todos os estômagos devem ser retirados por motivo de ordem pública. Boa noite!” 

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