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domingo, 6 de setembro de 2015

INSPIRAÇÕES NECESSÁRIAS

Quem reza, não é mais do que os que não, pois oração sem ação não passa de solitário murmúrio.

“Pode nos dar uma esmola, senhor?” ­– quando uma cusparada molhou o seu rosto. Limpou com uma mão e estendeu a outra. “Isto fica para mim, agora pode dar uns trocados para minhas crianças?” A vergonha (acredito) deve ter invadido os espíritos daquele homem, ou não. Desconheço o mapa dos ‘por-dentros’.  
Eis um episódio na vida de Irmã Dulce. E não, enganou-se, não tenho religião, minhas preces precedem de outras verdades, o que não me impede de incitar meus escuros a se acenderem com luzes assim, como as de Dulce. Costumo, inclusive, dizer (para não provocar reações negativas) que minha religião está no plural, elas pertencem a todas as cores. Contudo, reconhecendo, admito que existam pessoas iluminadas e que vivem para nos trazer esperanças. Citei Dulce (a doce), mas poderia puxar mais algumas ‘bonitezas’ da memória, já que fui educado em ambiente judaico-cristão – não que ser solidário seja uma marca cristã, nem sempre é, aqui falo pontualmente. Por outro lado, como expressou a Madre Teresa de Calcutá, “se é muçulmano, seja um bom muçulmano; se é hindu, seja um bom hindu; se é cristão, seja um bom cristão.” Estas cores... É sobre elas que me referi ao considerar-me de todas elas. Escolhi ficar de fora, justo que seja assim, já que sou educador. Ser um reacionário religioso é como ser um político que prega só partidarismo. Respeita só os de sua sigla (ou coligação) e nutre o hábito de desprezar os que não são. Para tanto, usam até a expressão: “Não sou nenhuma Madre Teresa.” Enfim, mesmo cético, fico apático esse tipo de analogia.  
Nelson Mandela, por exemplo, apesar de ter ficado vinte e sete anos em uma prisão. Assim que saiu, não quis que o ódio da segregação continuasse o aprisionando aqui do lado de fora. Pregou igualdade e acerto entre pessoas negras e brancas. Sim, ele era inteligente, e homens e mulheres inteligentes sabem: biologicamente, pertencemos a uma mesma raça, a humana; existencialmente, a muitas, cada um de nós é uma raça inteira de si mesmo. Sabendo disso fica fácil compreendermos que haja um dia dedicado ao altruísmo (o contrário do egoísmo). Na África do Sul chamam tal data de o dia do ‘Mandiba’. Apelido carinhoso que deram a Mandela e que, em leitura aproximada de uma das línguas desse pedaço africano, significa “o pai”.
Engraçado. Outro dia um amigo me indagou: “Esses haitianos ficam entupindo tudo, por que não ficam no país deles, pô?” “Mas você não é de origem germânica?” “É diferente.” “Amigo, eles vieram pelos mesmos motivos que seus antepassados. E não, isso não é diferente, é só indiferença de sua parte.” Quando, em menos de uma semana, explode a foto daquele menininho sírio encontrado morto numa praia. A intolerância não poupa ninguém, mesmo. Quanto tempo mais levará para chegar ao mundo outra Irmã Dulce, outra Madre Teresa, outro Mandiba, outro Gandhi, outro Luther King...
Enquanto não chega, é bom que já comecemos a ensaiar a dança das cores. A religião que não prega, mas compreende que qualquer arco-íris não se faz com apenas uma cor.  
Tenho medo do que não sabemos fazer sozinhos... 

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