Triste, mas alguns
ainda reclamam que os ‘intrusos’ devem permanecer em suas casas, em seus
países, sem rumo e sob a aba daquele limbo destinado aos que não podem entrar e
nem sair – tal como fantasmas bem "judiados" e que assombram algum
antigo campo de concentração.
Sim, a intolerância
assusta, reprime e desrespeita o direito mais caro que conquistamos: o da
igualdade. Os 'hojes' esquecem-se dos 'ontens' - prevalecimento fascista que
desencanta quem vê, sofreu/sofre com isso e, portanto, não esquece. Agora
estamos tranquilos; antes muito de nós também morreram. Então por que continuar
matando? Não sabemos. Mesmo nos orgulhando em atirar palavras duras no peito de
algum moribundo desesperançado. Tiros disparados por todos os lados,
principalmente se estamos bem, seguros. Triste. Desumanidade e covardia são o
que restam. Quando iremos aprender? Seria um ótimo exercício se tentássemos
preservar ao menos as almas de quem precisa, também, existir. Ensaiemos isso.
Ensaiemos a alteridade.
Dentro desses fatos,
penso que ser entendido é só uma maneira de continuar sozinho. Compreendido, um
modo a mais de se povoar. Por isso a solidão insiste em morar neles (nos
refugiados) – casas tristonhas, pois poucos fazem conta em arejá-las. Assim
devem se sentir todos os homens, mulheres e crianças que, hoje, estão sujeitos
a ‘estrangeirações’. Dignidade e acolhimento são o mínimo que podemos oferecer
enquanto seres humanos. E que fique bem
claro, a compreensão é como uma mão. Ela deve ser posta sobre a outra, sobre a
mão de outra pessoa, assim, para compartilhar o calor. Entender? Não, entender
não é compreender. Falta o (co) do prefixo que nos faz refletir. Falta o
“junto”.
Saibam, senhores, além
de nosso passado fora destas terras, somos mestiços de infinitas raças.
"Rastiços" dos que vamos tendo que ser. Cada um daqueles meninos que
fomos – borrões no painel – representa uma cor que deixamos se misturar e
transparecer: somos eles todos. Sendo assim, um garotinho pisoteado pela
injustiça deve sim nos incomodar. Precisa nos incomodar!
Enfim, se você acha que
os haitianos devem sair daqui, vá embora junto, pois, a menos que seja índio
brasileiro, também não pode ficar. Todos já fomos estrangeiros, esqueceu? Por
que achamos que eles são diferentes de nós? Crianças, sírias ou não, não devem
mais morrer na praia. Elas precisam chegar. A intolerância já matou gente
demais. Como já disse o poeta: “é necessário abrir os olhos para dentro, se
revisitar.”.
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