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terça-feira, 8 de setembro de 2015

SOBRE CRIANÇAS QUE MORREM NA PRAIA...

Triste, mas alguns ainda reclamam que os ‘intrusos’ devem permanecer em suas casas, em seus países, sem rumo e sob a aba daquele limbo destinado aos que não podem entrar e nem sair – tal como fantasmas bem "judiados" e que assombram algum antigo campo de concentração.
Sim, a intolerância assusta, reprime e desrespeita o direito mais caro que conquistamos: o da igualdade. Os 'hojes' esquecem-se dos 'ontens' - prevalecimento fascista que desencanta quem vê, sofreu/sofre com isso e, portanto, não esquece. Agora estamos tranquilos; antes muito de nós também morreram. Então por que continuar matando? Não sabemos. Mesmo nos orgulhando em atirar palavras duras no peito de algum moribundo desesperançado. Tiros disparados por todos os lados, principalmente se estamos bem, seguros. Triste. Desumanidade e covardia são o que restam. Quando iremos aprender? Seria um ótimo exercício se tentássemos preservar ao menos as almas de quem precisa, também, existir. Ensaiemos isso. Ensaiemos a alteridade.
Dentro desses fatos, penso que ser entendido é só uma maneira de continuar sozinho. Compreendido, um modo a mais de se povoar. Por isso a solidão insiste em morar neles (nos refugiados) – casas tristonhas, pois poucos fazem conta em arejá-las. Assim devem se sentir todos os homens, mulheres e crianças que, hoje, estão sujeitos a ‘estrangeirações’. Dignidade e acolhimento são o mínimo que podemos oferecer enquanto seres humanos.  E que fique bem claro, a compreensão é como uma mão. Ela deve ser posta sobre a outra, sobre a mão de outra pessoa, assim, para compartilhar o calor. Entender? Não, entender não é compreender. Falta o (co) do prefixo que nos faz refletir. Falta o “junto”.
Saibam, senhores, além de nosso passado fora destas terras, somos mestiços de infinitas raças. "Rastiços" dos que vamos tendo que ser. Cada um daqueles meninos que fomos – borrões no painel – representa uma cor que deixamos se misturar e transparecer: somos eles todos. Sendo assim, um garotinho pisoteado pela injustiça deve sim nos incomodar. Precisa nos incomodar!
Enfim, se você acha que os haitianos devem sair daqui, vá embora junto, pois, a menos que seja índio brasileiro, também não pode ficar. Todos já fomos estrangeiros, esqueceu? Por que achamos que eles são diferentes de nós? Crianças, sírias ou não, não devem mais morrer na praia. Elas precisam chegar. A intolerância já matou gente demais. Como já disse o poeta: “é necessário abrir os olhos para dentro, se revisitar.”. 

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