Nunca me arrisquei
muito na escrita de poemas (e não pensem que não tentei). O que liberto de
minha pouca ‘poética’ anda distribuído/diluído entre as crônicas catadas de
alguns borrões derramados pela memória (o que considero menos perigoso). Sei
bem que o ‘fazer-poemas’ exige muito mais do que vazamentos, porém,
popularmente, parece ter se consolidado como a tarefa mais simples do mundo,
simplória até. E não é. Saibam amigos, quanto menor a estrutura de um texto,
maior a dificuldade em tecê-lo, pelo menos dignamente. Rimas pobres dos tipos
amar e sonhar, saudade e verdade, em geral levam as imagens para lugares
comuns. São como sopros indesejáveis e que fazem qualquer veleiro perder o
norte – a não ser que sejam movidos por suspiros semelhantes aos de um Quintana:
este sim soube enriquecer o que parecia pobre. Leiam-no.
Quanto aos espaços,
sim, eles também precisam fazer parte da construção (digo parte mesmo). Não
estão ali apenas porque o “poeta” os achou bonitinhos. Qualquer excesso (no
poema) é pecaminoso, nada pode se perder nele. Em outras palavras: se fosse uma
laranja, até o bagaço seria importante.
Não quero assustar o
leitor, muito menos inibi-lo, mas a construção a que me refiro precisa encontrar
uma razão (mesmo pouco razoada) para existir. Neste texto mesmo, se eu tirar
uma palavra ou outra, uma frase ou outra, que seja, ele continuará a ser, o
foco permanecerá firme, posso trocar, substituir. Diferente dos versos que
precisam versar afinadinhos, musicando traço a traço os desenhos e as lacunas
que precisam estar abertas para o leitor. Assim é a arte, e ela só sabe existir
na diferença do ser que nos tornamos em cada leitura. Ou seja, se há riscos em
uma boa pintura, eles estão ali por alguma razão. Como eu disse, na arte não há
excessos; na vida, quem sabe?
Penso, com isso, que a
vontade de ser mundo – como a dos poetas – é maior do que a de ter mundos. O
ideal mesmo seria uma simbiose simples e feliz, como a de um gato que deseja
ser silêncio, que se funde no silêncio. E só porque tenho vontade de ser poeta,
não quer dizer que seja um. Palavrinha difícil de vestir.
Entretanto,
aos que se aborreceram durante estas linhas, quero que saibam: a escrita é uma
necessidade de continuar existindo pela voz de alguém. Escreva mesmo. Para
isso, não é preciso sentir-se escritor ou poeta. As palavras precisam tocar o
outro, porque é nele que nos inscrevemos, seja falando, deixando-se vazar pelos
poros ou pela textura inconsciente de uma folha branca de papel – com a
simplicidade que nos exige a pele de alguma folha branca de papel. Só cuide!
Ser poeta não é titulação. É nudez.
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