Amar é um verbo que se eterniza em
milhares de conjugações.
Há muito, Olavo Bilac,
excelente poeta (disso não discordamos), atacou publicamente o escritor Raul
Pompeia. Bilac, deixando-se vazar por sua parte menos poética (a da política),
ironizou o fato de que Pompeia não havia formado família e que se masturbava à
noite em seu quarto solitário. Sim, para quem se lembra do Sérgio, personagem
principal do “Ateneu”, vai recordar também de que em certo momento ele foi
abusado por meninos maiores dentro da instituição (do Ateneu). Pronto. Creio
que esta tenha sido a gota que ajudou a transbordar o copo. O que aconteceu
depois? O que dizem as fofocas literárias é que ambos (Olavo e Raul) desafiavam-se
frequentemente para duelos, porém, felizmente, a polícia sempre chegava antes
para intervir. Triste, mas três anos mais tarde, em dezembro de 1895, ele, o
romancista, não aguentou mais e cometeu suicídio. Homossexual? Isso ninguém
sabe. Sabe-se apenas que naquele tempo duas coisas eram ofensivas, inaceitáveis
para um integrante da política: ser homossexual e ser negro (lembrando que a
Lei Áurea, que foi assinada pela Princesa Isabel, é de 1888).
Bom, hoje, no séc. 21, isso
tudo deveria estar fora de moda, desatualizado até. Só que não. Sutil e descaradamente,
ainda sentimos esse tipo de fedor. Inclusive, há poucos dias, soube que certa
bancada de deputados sugeriu um projeto que pretende definir um padrão
específico para a família brasileira (homem e mulher). E que tal copiarmos os excelentíssimos
e, de igual forma, também definirmos fronteiras – já que estamos dentro de um
país laico – pelas quais política partidária e religião não se mestiçassem
tanto? Penso que não iriam gostar, lógico! Entretanto, (admito) as duas são
importantes, mas não, não dá uma boa mistura, suco amargo demais. Porém, claro!,
se vivêssemos ainda em meio à escuridão ‘medieva’, seria natural sermos cobertos
pelas trevas que enublam o que não merece descoberta: o amor livre, por exemplo.
Bom, pensando bem, não
sei se devia ter articulado esta croniquinha. O que sei é que, para alguns, não
é permitido evoluir afetivamente, libertar-se para o amor, já que famílias
precisam ainda estar disponíveis aos moldes da Idade Média, pois as rédeas do
falso moralismo não nos deixam em paz. Ou seja, mesmo infeliz, não se apaixone,
não ame, desrespeite sua natureza, desrespeite-se para usufruir o que os deuses
de alguém reservaram para você (e olhem que hoje eles estão até legislando no
planalto): que é uma vida sem completude e sem cor familiar.
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