A chuva me confunde, não sei
se sou eu a chover, ou se ela mesma é quem chove... Parece triste, não parece? Pode
até ser. O fato é que depois dela, não consigo pensar em um silêncio mais seco.
Acho que ele parece ter se esquecido de se enxugar. Sim, a moça nos aveluda um
silêncio tão pelado que nos veste os ouvidos. Dias chuvosos são assim,
inconjugáveis, seus barulhos não concordam. Queria
poder conjugá-la, pelo menos essa que se vozeia lá fora... Assim, quem sabe eu
chovesse de verdade e também me tornasse parte dessa vontade de ser canção. Chuviscos são tons, e toda música que consiga
ser melhor do que os silêncios consegue também fazer sucesso em mim. Desconheço
vontade mais musical. Chove, pode chover. Vá secando os nervos das nuvens para
irrigar e acalmar os nossos.
As serenatas compostas pelas
gotas parecem dedilhados faceiros de um mestre tocador. Ela pensa que nossos
telhados são violões afinados (como os de "blues"). Que bobinha! Essa
guria (a senhorita chuva) tem uma vontade louca de ser canção... Ouça como ela
toca, deixe que se enrosque em seus ouvidos! Ah, danada! Ela é um silêncio delicado que se (m)olha nos
ouvidos... (saiba que uma verdade, sem ouvidos, fica bêbada de si mesma, não se
pluraliza). Para ouvir colorido ou povoar os olhos de mundos,
queria ser poeta, músico ou o deus das nuvens, pois quem faz música nunca morre, ela (a música) é infinita e quem produz o
infinito se eterniza. Assim, o dia não está feio, está só se eternizando pra nós.
Uma vez Nietzsche escreveu: “Se não
houvesse música a vida seria um erro.” No que completo, “se não ouvíssemos as
canções que brotam do céu e se musicam ao tocar a terra, a vida seria surda e
pouco colorida, também um erro.” Acho que desaprendi a não gostar dos silêncios
dos telhados. Alguns acham que ele é um. Não, o silêncio vem em legião. Nós é
que precisamos estar afinados para degustar um a um, tal como as gotas que
tamborilam em nosso mundo em um dia bonito de tempo “feio” – aqueles sem
temporais.
A beleza canta pra nós, vamos bebê-la!
Saúde!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Divida conosco suas impressões sobre o texto!