Uma das peças mais
bonitas que já li. Em suas linhas, não há melhor tratado sobre o tempo e sobre
as crianças, que se engordam cheias de apetite para raspar o tacho todo da
infância. Monteiro Lobato também se lambuzou ali. Sujou-se tanto que ‘encriançou’
outra versão para essa mesma história (muito bonita, diga-se de passagem).
Sir. James
Matthew Barrie nasceu na Escócia... (não vou narrar a biografia toda) O que
precisamos saber é que ele criou o menino mais arteiro do mundo, tão arteiro
que voava: Peter Pan. Peter vem de “petrus”, que quer dizer pedra, força, em
português diz-se Pedro. Pan, palavra grega, “panis”, que significa
aproximadamente algo como “tudo”, “todo”. Ou seja, Peter Pan é a força toda, a
força de Ser-Criança, o ser que cria. Outra interpretação viria também do
grego, oriunda de Pan, o deus das florestas.
Enfim, vamos falar dos
tempos e das crianças, porque as crianças são criaturas que brincam de estica,
cresce e puxa com qualquer coisa. Tanto que nem mesmo Crono é capaz de escapar
desse tanto "brincriativo". Enquanto ele nos devora e depois nos
vomita como rotinas, elas retardam sua fome ao explodirem uma bomba de
"mais-tempo" que se engorda dentro dele.
Assim é em Peter Pan.
Pan vive em um mundo onde as crianças não crescem, lugar onde os adultos as
perseguem, as odeiam. Tudo por conta de que um dia o Cap. Gancho, em uma das
épicas batalhas com o líder dos garotos perdidos, caiu na água. Não teve jeito,
Saturno, opa...!, o crocodilo Tic-tac devorou sua mão, junto dela um relógio
serviu-lhe de refeição. Desde então, o tempo (o crocodilo), agora um apreciador
das carnes adultas, tem fome do Capitão. O monstro parece não dar atenção aos
meninos, seu negócio é correr atrás e tentar devorar os “grandes” (grande mesmo
é essa metáfora! A última parecida que li foi em Memórias Póstumas de Brás
Cubas, de Machado de Assis. A máxima dizia assim: “Matamos o tempo; e o tempo
nos enterra.” Perdoe-me Mestre, mas eu a mudaria para: “Matamos o tempo; e o
tempo nos devora”).
Terra do Nunca... Há
lugar mais bonito para não crescer e brincar nas beiradas da eternidade? Nosso
“deuzinho” daquela mata, o Pan, tem a sorte que todos deixamos escapar, porque
nós, os “adultólogos”, achamos que brincar e existir em brevidades é besteira.
Nossos ganchos denotam nossa fuga, tal como a que o Cap. James Gancho passou.
Nosso lugar é no chão, não voando. Nossos meninos se perderam, ficaram manetas
e rotineiros. Deixamos o tempo sentir nossos gostos, agora ele nos persegue.
Ai, coitados de nós! Só
as crianças é que sabem enganar o crocodilo...
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