O dia parece brotar em
pequenos concertos. Primeiro a lua, devagarzinho, se ‘desilumina’ para que
outras luzes possam se ‘horizontar’. Depois o latejo de alguma vida vai dando
cor e forma aos silêncios que engravidam o leste das distâncias. E um a um, os
pássaros parecem entender tudo em um grandioso coro que se esvoaça em um
grandiloquente parto do Sol.
Assim me sinto sempre
que abro um livro de Manoel de Barros, poeta fino em seus amanheceres, pois, em
cada poema dele que se entrega pra nós, há um novo nascer do Sol. Amigos! Ele
nos ensina que somos muitas janelas que olham para o mundo. Casas nômades a
vagar sozinhas por aí. Porque aqui onde se escondem os ossos, todos nós moramos
em um estado de quase solidão, só observando outras 'solitudes' se avizinhar.
Manoel é o melhor vizinho. Isso se permitir que ele te visite e te conte sobre
um céu que clareia bem debaixo de nossos pés. Como é bonito pensar que o
firmamento também pode estar no chão!
No ano que passou,
infelizmente, perdemos essa estrela. Da terra que tanto amou foi para as nuvens
“amanoelar” as cores do céu. Mas pensando melhor, não, poetas não morrem nunca,
eles se tornam canto na voz de alguma palavra passarinheira. Manoel de Barros
só foi um poeta maior (e para muitos, imortal) porque soube afinar sua
sensibilidade à sabedoria das crianças. Elas, verdadeiramente, são quem tornam
grande o menor, pois – muito mais sabidas – usam temperos e fermentos
especiais. Basta jogarem uma pitadinha por cima do tempo, e PUMMMM, esticam o
mundo todinho de uma vez só. Ah, como é triste desaprender a espantar-se! A
rotina é mesmo coisa de gente que emagrece, de adultos que vão se tornando
chatos por ignorarem que há muitas primeiras vezes naquela mesma vez que jamais
se repete. Assim viveu o amigo das melhores letras, e adivinhem, elas ainda
podem te soprar, basta ler um poema perdido nas páginas que ele escreveu.
Há um livro muito bom.
Um livro de capa branca que se chama “Manoel de Barros: Poesia completa”. Eis
minha dica para quem pretende despertar e, como já escreveu outro poeta (Mário
Quintana), acordar-se para dentro. Apresento-lhes uma obra que nunca se
desgastará – não pode se desgastar. Procure-se ali dentro e encontrará aquele
menino que acabou esquecendo, o menino que um dia já foi você.
Boa Leitura!!!
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