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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O FEITIÇO DE ÁQUILA


Imagine-se sofrendo por um amor não correspondido. Agora pense em uma situação em que tivesse correspondência, mas que não pudesse ser vivido. Foi exatamente o que aconteceu aos personagens do “O feitiço de Áquila”, filme dos anos oitenta, que inspirou, inclusive, Rubem Alves a escrever uma belíssima crônica.
A história é a seguinte. No finalzinho da Idade Média, um bispo, banido, inclusive, por Roma, apaixona-se por uma bela dama. Injuriado por saber que ela amava o capitão da guarda real de Áquila, lança um feitiço sobre os dois. “Se ela não puder ser minha, não será de mais ninguém!” Desde então o casal vive junto, contudo, mais separados do que nunca. Explico: o bispo havia invocado forças demoníacas, fez um pacto com satã pedindo para que o homem se tornasse lobo, e ela, durante o dia, um falcão. Nunca haveriam de se encontrar, porém o capitão estava condenado a vagar sob a luz do Sol com uma ave (ela), enquanto a dama passava as noites com aquele lobo negro (ele). Não poderiam mais se ver, exceto em um único segundo entre o pôr do Sol e o início da escuridão. Momento triste e medonho para os dois.
Quantas pessoas não se perdem assim, unidas somente por um fiozinho de existência. Um átimo entre o chegar em casa e ver o outro sair para o trabalho. A solução seria um eclipse, momento pelo qual o dia e a noite se tornam um só. Talvez este seja o fim de semana, porém, como os tempos mudaram e o trabalho acaba nos acompanhando até as famílias, as coisas tendem, geralmente, a se ‘deseclipsar’. Tempos modernos onde precisamos garantir o dia seguinte, mesmo sacrificando este e os outros que deveriam ser gastos com as esposas e os esposos. Exato! Viramos lobos, elas falcões.
Acho que o feitiço nunca será quebrado, a menos que uma das partes desista de trabalhar. Daí as coisas complicam. A vida financeira sente, os homens viram lobos maus e as mulheres, abutres. Impossível sobreviverem assim. Neste ponto até parece agradável aquele momentinho entre o Sol e a Lua, não acham?
Claro que não me refiro a famílias que desfrutam de altos ganhos. Penso numa relação pouco mais realista, do tipo que vemos por aí, quando somos nós, os enfeitiçados pelas mágicas do bispo do capitalismo.

Se aceitarem um conselho. Aproveitem os eclipses, eles são um pedido desesperado de CARPE DIEM. Vão, aproveitem os dias com seus pares antes que a segunda-feira de faça uivar.  

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