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sábado, 14 de fevereiro de 2015

AS ESTAÇÕES DO AMOR


Sempre que espero minha esposa sair do trabalho, no carro, fico lendo um livro. Tenho um para cada lugar, para cada ocasião. O da espera, atualmente, é um de contos do autor Horácio Quiroga, da obra Cuentos de amor de locura y de muerte. O texto da vez trata do relacionamento entre os personagens Nébel e Lídia, ambos por volta dos catorze anos, tudo dentro de uma trama muito inquietante chamada “A estação do amor”. Há um desenvolvimento para cada uma: primavera, quando se encontram (tempo das flores e da beleza); verão, momento em que o pai do rapaz recusa-se a aceitar o casamento dos namorados (calor); outono, quando o tempo passa e, após 15 anos, ele retorna (folhas caindo, mudança); e inverno, a doença da mãe de Lídia e o reencontro maduro e tempestuoso entre os dois amantes (frio).
A pré-adolescência seria nossa primavera, momento em que descobrimos o outro e a nós mesmos, desabrochamos. Talvez este seja o mais belo da vida, se relacionado ao amor. A pureza de um olhar que se encanta por outro é quase incompreensivo para quem está de fora. Há apenas um espaço ali, o de duas pessoas. A terceira, por sua vez – se interferir –, será incapaz de sentir o aroma e o encanto provocado por aqueles jardins.
Logo mais, ainda na juventude, vem o sexo e as discórdias. Se antes não haviam espaços para os olheiros, agora sim é que não há mesmo. Quem ousar se meter neste relacionamento receberá de volta a ira, a fúria, a paixão. O calor é o elemento preponderante. Tanto que chamam o período de “aborrecência”.
Contudo, ela passa, as folhas precisam ser trocadas. Os amores partem, dão lugar a outros tantos. É quando descobrimos que tudo o que tivemos foram paixões (doenças da carne provocada por espíritos cegos). Temos então o tempo da reflexão. Fase em que nos perguntamos as diferenças entre “paixonite” e “amor”. É importante vivê-lo bem, pois quem sabe não é a transição mais bela entre o que fazer e o que se deve esperar da vida, tanto amorosa quanto profissional.
E daí vem frio para nos assolar a alma, ele nos faz ponderar sobre o que é verdadeiramente importante. Se uma relação conseguir suportar as três últimas estações, pode estar certo: encontrou a pessoa que saberá envelhecer e suportas os maus bocados dos invernos contigo. Superando tudo isso, já estamos em um relacionamento maduro. Pena que isso não seja tão comum. Poucos pares tem tanta força.

E esta foi a reflexão. Rogo para que o leitor tenha coragem e discernimento para valorar uma pessoa que suporte cada uma dessas estações. Boa sorte!  

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