Sempre que espero minha
esposa sair do trabalho, no carro, fico lendo um livro. Tenho um para cada
lugar, para cada ocasião. O da espera, atualmente, é um de contos do autor
Horácio Quiroga, da obra Cuentos de amor de locura y de muerte. O texto
da vez trata do relacionamento entre os personagens Nébel e Lídia, ambos por
volta dos catorze anos, tudo dentro de uma trama muito inquietante chamada “A
estação do amor”. Há um desenvolvimento para cada uma: primavera, quando se
encontram (tempo das flores e da beleza); verão, momento em que o pai do rapaz
recusa-se a aceitar o casamento dos namorados (calor); outono, quando o tempo passa
e, após 15 anos, ele retorna (folhas caindo, mudança); e inverno, a doença da mãe
de Lídia e o reencontro maduro e tempestuoso entre os dois amantes (frio).
A pré-adolescência
seria nossa primavera, momento em que descobrimos o outro e a nós mesmos,
desabrochamos. Talvez este seja o mais belo da vida, se relacionado ao amor. A
pureza de um olhar que se encanta por outro é quase incompreensivo para quem
está de fora. Há apenas um espaço ali, o de duas pessoas. A terceira, por sua
vez – se interferir –, será incapaz de sentir o aroma e o encanto provocado por
aqueles jardins.
Logo mais, ainda na
juventude, vem o sexo e as discórdias. Se antes não haviam espaços para os
olheiros, agora sim é que não há mesmo. Quem ousar se meter neste
relacionamento receberá de volta a ira, a fúria, a paixão. O calor é o elemento
preponderante. Tanto que chamam o período de “aborrecência”.
Contudo, ela passa, as
folhas precisam ser trocadas. Os amores partem, dão lugar a outros tantos. É
quando descobrimos que tudo o que tivemos foram paixões (doenças da carne provocada
por espíritos cegos). Temos então o tempo da reflexão. Fase em que nos
perguntamos as diferenças entre “paixonite” e “amor”. É importante vivê-lo bem,
pois quem sabe não é a transição mais bela entre o que fazer e o que se deve
esperar da vida, tanto amorosa quanto profissional.
E daí vem frio para nos
assolar a alma, ele nos faz ponderar sobre o que é verdadeiramente importante.
Se uma relação conseguir suportar as três últimas estações, pode estar certo:
encontrou a pessoa que saberá envelhecer e suportas os maus bocados dos
invernos contigo. Superando tudo isso, já estamos em um relacionamento maduro.
Pena que isso não seja tão comum. Poucos pares tem tanta força.
E esta foi a reflexão.
Rogo para que o leitor tenha coragem e discernimento para valorar uma pessoa
que suporte cada uma dessas estações. Boa sorte!
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