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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

SOBRE O AMOR...


O amor é o verbo mais difícil de conjugar. Precisamos começar pelo ‘eu cultivo’ e rezar para que ‘tu cultives’... Quem sabe dali possa florescer um ‘eu te amo’ e, até mesmo, um ‘tu me amas’ bem gordinho, também!? Não sou nenhum Pablo Neruda, menos ainda um Vinícius de Moraes, sou um aprendiz de amante. Um inquieto que quer aprender as conjugações desse verbo irregular – contrariando toda a lógica da gramática. O Amor não se mede, ele não pode ser consultado em manuais. Não mesmo! Todos somos conjugáveis: eu dilso, tu dilsas, ele dilsa... até os nomes se diluírem em alguma outra coisa que não mais eu, nem tu.
Um dia acordei doente. Minha esposa me perguntou por que eu estava assim. Respondi que era pelo excesso de trabalho – andava cansado, mas sabia que não podia parar. “Só amamos o outro quando cuidamos de nós” – proferiu ela. No mesmo instante adormeci e acordei mais leve para meu próximo dia útil.
Contudo, saiba que, se nos amarmos demais, o amor pode virar madrasta ao nos perceber para fora de nosso reflexo. Espelhos são frágeis, não negam beleza a quem os pode quebrar - só que não somos espelhos. Nunca pergunte nada ao espelho. Ele vai dizer sempre sim, tu és a mais bela. Jamais contrariaria a força de um autoengano que pode quebrá-lo por desengano. Ele é frágil, não tolo. O amor acaba quando nos damos conta de que, não sendo uma cópia de nós, o outro é capaz de existir sozinho. Quebrando o egoísmo, quebra-se o encanto. Não podes querer alguém como um reflexo de ti. Os espelhos ignoram nossas interioridades. Mas se gostas mesmo de paisagens, ecos... Vá morar nas montanhas, não nas pessoas.
O amor é uma doença estranha: não sabemos direito de onde vem. Se do corpo, se da alma... Mas sabemos muito bem sobre a cura – e o pensamento sobre a cura, quanto mais profundo, nos ‘enfebra’ ainda mais.

Olhemos para os outros deixando de lado as imagens fabricadas de nós próprios sobre os demais. Desassombremos. Livremos o mundo de nossas contaminações. Desses inventos intuitivos de tantos 'eus' que se amam e 'fantasmagoram' outros tantos espíritos que, logicamente, não são nossos. Ensaiemos nossas 'outredades'. Pois mesmo sendo impossível ver-se como um outro, acabamos sendo um outro para outros também. Exorcizemos nossos Narcisos antes que eles nos prendam nos espelhos de alguma lagoa triste e solitária por ali, em algum cantinho de dentro de nós mesmos.

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