.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

AUTOAJUDA


Defender uma verdade é como optar por um perfume, nem toda a pele se adapta e nem todo o cheiro agrada. Sim, a verdade é uma mentira de muitos aromas. Uns são deixados pelas minhas frustrações e acertos. Outros, pelas suas. Mas a que eu mais gosto mesmo (tenho que confessar!) é a mistura: as mentiras recontadas pelas cores das palavras perfumadas tanto pelas primeiras, quanto pelas segundas.  É certo que “no princípio era o verbo...” – sempre o verbo! – “e o verbo se fez carne...” virou boca e nos devorou. Depois mastigou e cuspiu a todos nós. Eis a mais pura verdade!
Todos os dias o tempo nos traz um novo “eu” e essa legião de “nós” é que nos fazem tornar os muitos que somos dentro de um só. Esse é o presente desse mesmo tempo que nos mata e nos faz (re)nascer todos os dias; que nos faz perder o foco de quem escreve e de quem lê... Que nos faz sermos o que somos e diferentes de quem fomos, pois somos povoados por aqueles de ontem. A casa precisa crescer. Pela manhã seremos uma multidão.
Pensando nisso, como podemos consumir textos/livros de autoajuda? Não podemos aceitar fórmulas para o sucesso. Não mesmo! Partindo do princípio de que somos únicos. Como inspirar-se pelas mesmas pegadas que foram dadas pelos pés tortos de algum autor? É fácil ser um marqueteiro de ilusões! O que deu certo para um, não necessariamente dará certo para outros. Os tijolos dos caminhos sempre estão posicionados diferentes, porque somos nós quem os colocamos lá. Não leia autoajuda, leia Poesia ou Filosofia. Não se encontre. Quero que se perca de vez. É mais gostoso.  Esse é o (des)caminho para o encontro com os outros de ti que foram deixados em outras caminhadas. Eu disse outras, mas suas, de mais ninguém.
“Caminante no hay camino, se hace camino al andar...” Em uma tradução literal – esta por minha conta –, seria: “Caminhante, não existe caminho, os caminhos se fazem ao caminhar...” Verso preferido de meu amigo Rodrigo Bartz, “vontade” cunhada pela pena do poeta Antonio Machado. Eu sei que a verdade, como já disse, é uma eleição, um boticário, mas precisamos admitir que fazer caminhos enquanto se caminha é bem mais respeitoso do que achar que os dos outros podem ser caminhados por ti.

Diga não aos pensamentos que só ajudam editoras e pseudoescritores a tornarem-se mais ricos. Este é o segredo do sucesso deles. Quer fazer o mesmo? Não somos os mesmos nem dos que fomos ontem, quanto mais dos outros. Tudo é construção! 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Divida conosco suas impressões sobre o texto!