Quem nunca viveu um
amor? Acho que essa vivência é universal (desculpe a pergunta!). Ninguém a
espera. Ela te vê e logo te arrebata. O suor esfria. A boca seca. O coração –
coitado – dispara como um doido. Sim, os primeiros sintomas são estes mesmos: o
de doença. Afinal, a palavra paixão significa “doença da alma”. Assim,
adoentados é que tudo vai perdendo o sentido. Nada mais de ouvir os amiguinhos
ou prestar atenção no que diz aquele professor de álgebra. Queremos poesias,
pois os rostos parecem ganhar a forma do motivo de tanta distração: o da pessoa
que não planejamos amar.
O cheiro... Pode passar
vinte, trinta, quarenta anos. Eles não nos esquecem. Não, as flores não nos
pedem para exalar seus temperos. Em um belo dia, basta passear em um jardim, e
pronto! As cores das plantinhas (como mágica!) passam a ter mais vida do que o
habitual. Como podem ter mudado? Eu mudei? Vi e cheirei as violetas certas?
Bom! Isso não se pode saber! Ninguém pode entender dessas coisas, desses
mistérios.
Ah! E se um beijo
inocente florescer entre dois lábios? Ou pior. E se a cena repercutir para todo
o sempre no peito de um daqueles pombinhos? Perigoso! Isso pode acionar uma eternidade,
já que – pelo menos nessa fase (na adolescência) – as coisas nem sempre
terminam como desejamos. É incapaz de terminar. O medo é que fique...
Essa coisa de beleza é
outro elemento que também vai se gastando. Quando amamos de verdade, os olhos
se atrapalham. Parece que não vemos mais do mesmo modo que os outros. Ficamos à
mercê do nada que se tornou – para nós – o resto do mundo. Existir? Só se for
ali, junto com aquela imagem que tanto contagia os pensamentos. Nós perdemos
isso. Geralmente passamos a vida relembrando o sentimento que já tivemos
coragem de deixar acontecer. Verdade! Antes nos entregávamos. Adultos, de tanto
nos perdermos, acabamos acordando certo medo de amar, medo das pequenas mortes
e dos pequenos vícios. Assim, preferimos a entrega desconfiada para que não se
faça mais um furo indesejado na peneira.
Depois de “grandes”, só
amamos quando aprendemos, desaprendemos e reaprendemos a afinar todas as cordas
de nossas razões, porque ‘Amar’ é um verbo que se eterniza em milhares de
conjugações – queremos saber de todas elas. Temo que seja impossível amar como
um jovem sem deixar tanta desconfiança de lado. Basta eu e tu.
Sim, sempre procuramos
o amor; mas encontrar-se nele é que é um achado. Acho que nos esquecemos de
como é. ‘Coisa de adolescentes!’– dizemos. Fugimos assim...
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