.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

LIVROS NA REDE


A menor galinha, quando consegue pôr um ovo sofrido, precisa cacarejar bem firme e bem forte. Faz-se necessário provar que, apesar de raquítica, ela também tem cloaca e firmeza no bico.
Assim cheguei a esta reflexão estudada sobre a mania que tenho em expor minha bibliofilia (impulsão por adquirir livros) nas redes sociais. Esses campos são perigosos, pois se pode saber tudo de uma pessoa em apenas alguns cliques, sendo assim, não tenho como esconder essa vontade toda de mostrar ao mundo todo o que me orgulha: ter livros. Faço isso sem sentir consequências futuras, uma vez que carrego comigo uma filosofia, “o amanhã não existe, hoje é que é o futuro de ontem”. Tal como um clichê que ouvi outro dia – os clichês estão tomados de sabedoria –, assim diz: “quem pensa muito no futuro fica ansioso, os que pensam demasiadamente no passado, depressivo.” Acho que tenho a primeira, a ansiedade. Quando leio, preciso ter em mãos o próximo, assim como um fumante que acende um cigarro, mas precisa estar de olho na carteira cheia, pelo menos com mais dezenove “rolinhos de câncer” dentro, não censuro.
Falei, falei, mas não respondi tudo sobre meu galinheiro. Continuo, então: houve um tempo em que eu não podia comprar livros, eu estava estudando e nem sempre sobrava dinheiro para os prazeres. Contudo, isso nunca me impediu de apreciar a biblioteca. Alí pude ter o melhor do mundo e da forma mais bacana possível: de graça. Li. Visitei muito lugares, viajei até a mais difícil e longínqua das ‘lonjuras’, que é dentro de mim mesmo. Pobre eu? Não, amigos, hoje sou rico. Compro livros no equivalente a uma peça de roupas bem fina todo mês. Estou sempre na moda, me visto por dentro. Já me vestia antes, só que hoje posso ter as minhas roupas interiores no exterior também – e minha bibliotequinha só engorda.
Sim, não estão enganados, sou torto, nasci torto, bem torto e raquítico de alma, ler é preciso. Galinhas pequenas e fracas, como eu, precisam cacarejar sim, porque foi (e ainda é) na dificuldade que sustento esse meu vício. Por essa razão mostro tudo, bato asa assim, bem forte quando sai um ovo. Tudo para que as pessoas vejam que, mesmo nas dificuldades, todos podemos pôr ovos tão saborosos quanto os das “ciscadeiras” gordas e de penas mais apresentáveis do que as nossas.
Não me estendo, pois como cronista da vida, fico tentando encontrar vida nas crônicas e nas brevidades. Sabe, leitor, viver não é como acertar uma flecha em um alvo qualquer. Viver, como escreveu Fernando Pessoa, não é preciso, nunca há como ter precisão em tiros assim.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Divida conosco suas impressões sobre o texto!