A
menor galinha, quando consegue pôr um ovo sofrido, precisa cacarejar bem firme
e bem forte. Faz-se necessário provar que, apesar de raquítica, ela também tem
cloaca e firmeza no bico.
Assim
cheguei a esta reflexão estudada sobre a mania que tenho em expor minha
bibliofilia (impulsão por adquirir livros) nas redes sociais. Esses campos são
perigosos, pois se pode saber tudo de uma pessoa em apenas alguns cliques,
sendo assim, não tenho como esconder essa vontade toda de mostrar ao mundo todo
o que me orgulha: ter livros. Faço isso sem sentir consequências futuras, uma
vez que carrego comigo uma filosofia, “o amanhã não existe, hoje é que é o
futuro de ontem”. Tal como um clichê que ouvi outro dia – os clichês estão tomados
de sabedoria –, assim diz: “quem pensa muito no futuro fica ansioso, os que
pensam demasiadamente no passado, depressivo.” Acho que tenho a primeira, a
ansiedade. Quando leio, preciso ter em mãos o próximo, assim como um fumante
que acende um cigarro, mas precisa estar de olho na carteira cheia, pelo menos
com mais dezenove “rolinhos de câncer” dentro, não censuro.
Falei,
falei, mas não respondi tudo sobre meu galinheiro. Continuo, então: houve um
tempo em que eu não podia comprar livros, eu estava estudando e nem sempre
sobrava dinheiro para os prazeres. Contudo, isso nunca me impediu de apreciar a
biblioteca. Alí pude ter o melhor do mundo e da forma mais bacana possível: de
graça. Li. Visitei muito lugares, viajei até a mais difícil e longínqua das
‘lonjuras’, que é dentro de mim mesmo. Pobre eu? Não, amigos, hoje sou rico.
Compro livros no equivalente a uma peça de roupas bem fina todo mês. Estou
sempre na moda, me visto por dentro. Já me vestia antes, só que hoje posso ter
as minhas roupas interiores no exterior também – e minha bibliotequinha só
engorda.
Sim,
não estão enganados, sou torto, nasci torto, bem torto e raquítico de alma, ler
é preciso. Galinhas pequenas e fracas, como eu, precisam cacarejar sim, porque
foi (e ainda é) na dificuldade que sustento esse meu vício. Por essa razão
mostro tudo, bato asa assim, bem forte quando sai um ovo. Tudo para que as
pessoas vejam que, mesmo nas dificuldades, todos podemos pôr ovos tão saborosos
quanto os das “ciscadeiras” gordas e de penas mais apresentáveis do que as
nossas.
Não
me estendo, pois como cronista da vida, fico tentando encontrar vida nas
crônicas e nas brevidades. Sabe, leitor, viver não é como acertar uma flecha em
um alvo qualquer. Viver, como escreveu Fernando Pessoa, não é preciso, nunca há
como ter precisão em tiros assim.
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