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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

RUBEM ALVES


No finalzinho do ano passado, gentilmente, uma colega professora insistiu-me para levar um livro do Rubem Alves. Ela cuidava da biblioteca e passava o dia em meio a um ambiente que considero muito salubre – sei que o escritor argentino Jorge Luis Borges, na certa, concordaria comigo. Ali, naquele espaço de um dia de trabalho, encontrei a solução para cuidar um pouco de meus “dentros”. A Jussara (este é o nome dela) foi feliz na indicação. Mas não peguei apenas porque tinha que ler algo. O que me impressionou e atraiu foi a maneira com que ela me ofereceu aquela joia. Parecia que a obra e o autor tinham tocado sua alma de algum jeito mágico. Ele transbordava de sua fala apaixonada. Então percebi, sim, eu precisava lê-lo.
Ah, esse Alves! Como pôde me fazer sentir um cozinheiro? Explico: após o achado, li muito mais livros do escritor. Viciei. Deste modo, sempre com muita alegria, percebi que alguns elementos frequentavam bastante suas ideias (comida, professores, crianças, alma, sabor e sabedoria).
Impossível não amar a seguinte frase: “Os professores deveriam aprender com as cozinheiras”. Lindo para quem sabe que sabedoria tem a mesma raiz de sabor. Segundo ele, antigamente não se dizia “vou saborear um bife, uma salada...” Falava-se: “vou saber um bife, uma salada...” Não, meus caros, não dá para saber sem sentir o sabor das coisas. O paladar, quando falo em saborear, não é o único sentido que percebe os sabores. Dá para degustar uma música, um veludo, um perfume... Por isso ele afirma com tanta veemência que as cozinheiras é que deveriam ensinar aos professores, pois elas sim é que são sábias, fabricam gostos, tocam a qualquer alma.
Quanto às crianças de Rubem, elas são os seres mais maravilhosos de todos. Ele as reverencia, as ama e nos faz sentir um pouco sentidos por acreditarmos que somos menos sensíveis ao mundo do que já fomos. De acordo com ele: “São as crianças que veem as coisas – porque elas as veem sempre pela primeira vez com espanto, com assombro de que elas sejam do jeito como são. Os adultos, de tanto vê-las, já não as veem mais. As coisas – as mais maravilhosas – ficam banais. Ser adulto é ser cego.”
Sim, deixem-se perder por essa bússola de mil ponteiros que a Jussara me mostrou, porque achar-se é também uma maneira de se alienar. Não foi à toa que um grande poeta português (Fernando Pessoa) afirmou: “Viver não é preciso”.

É, cavalheiros, a vida não tem precisão alguma, basta uma entrada na biblioteca, e PUM, a rota “desrotina-se” para outros caminhos: e tudo se descobre descoberto!  

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