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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

AMIGO...


Hoje me deu vontade de proclamar o carinho que cultivo por um amigo. Por ele tenho uma dívida que nunca poderei pagar, pois o que ganhei de presente não se pode medir em finanças. Conto: quando minha alma estava no escuro, ele veio até mim e acendeu a luz. Se os temperos e as músicas não se afinavam, lá estavam seus dedos a dedilhar e apertar minhas cordas. Não, jamais poderia sobreviver (pelo menos não existencialmente) se não fosse esse rapaz, que mesmo cético, pratica muito mais cristandade do que muitos garnisés cheios de cristas, persignações e cantos sacros por aí. Ambos, meu amigo e eu, temos a mesma missão: "Lutar pela palavra...".
Não Drummond. Não concordamos que seja uma luta vã. Contudo, tens razão quando diz que é pelos sonhos que vamos, mesmo que as engrenagens de nossa maquininha de sonhar estejam ‘barulhando’ desconforto em alguns ouvidos desavisados. Ah, poeta, sinto que não importa muito onde estamos, porque a luta acontece dentro, nas interioridades, nunca além delas, pois os inimigos nunca estão do lado de fora! Quanto a você, Calíope, por Zeus, nos proteja dos amantes de si mesmos e que carregam os próprios egos como religião! Todos já temos nossas próprias guerras e as minhas andam em um momento de trégua, de paz. Enfim, hoje te entendo mestre Gogol, seu conto ("O Nariz") parece dizer muito nestes últimos tempos. Que a Felicidade, essa Senhora de brevidades, fique e – enquanto ficar – quero que seja eterna para todos os nossos narizes! Não me demoro, já tenho alguém com quem contar. Um mestre que me anima os espíritos quando o mundo sufoca todas as vozes.
Não, não conheço melhor leitor de nós do que um amigo, porque quando lemos puxamos um fio que, inevitavelmente, trama-se a outros das mais variadas cores e naturezas. Porque ler é uma condição, não uma escolha, pois ouvir é ler, degustar é ler, sentir é ler, observar é ler.

Sempre oriento meus alunos a cuidarem ao chamar ou eleger alguém como seu amigo, pois amigo em grego é “filo”, o que é muito parecido com “filho”. Se amar ao outro como o outro é, saberá o que os pais sentem pelos seus, pois quando esquecemos um espelho de frente ao outro, eis que temos dois abismos – infinitas repetições de labirintos que se devoram o dia inteiro. Cultive em ti mesmo a confiança que desejaria encontrar no mundo. Saibam, amigo, o amor vira madrasta ao nos perceber para fora de seu reflexo, espelhos são frágeis, não negam beleza a quem os pode quebrar - só que não somos espelhos, nem os amigos são. Respeite-os e terá um companheiro de alma.  

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