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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

“DESORGANIZAÇÕES”


Durante a semana estive entre as leituras dos livros: “Humano, demasiado humano”, de Friedrich Nietzsche; “Contos de amor, de loucura e de morte”, de Horácio Quiroga; “O fim do ciúme e outros contos”, de Marcel Proust; e, para inspirar as tintas dos dedos, “Felicidade”, de Martha Medeiros. Como sou indeciso, organizei da seguinte forma. O primeiro (de filosofia), leio no banheiro; o segundo (mais gostoso na linguagem), degusto no carro enquanto espero a esposa sair do trabalho; o terceiro, (pouco mais sisudo), embala-me as noites; e o último deixo vazar, parte a parte, entre os pensamentos de minhas “cronicações escrivinhadas”.
A filha diz que isso é nojento e que cada coisa deve estar no seu lugar, mas minha “cartesianisse” não me deixa. Não posso perder nem aquele tempinho íntimo com o vaso. Eu sei, a filhota também já me proibiu de ver os livros dela no banheiro (digo bem, “ver os livros”, pois chega um momento em que já não lemos, passamos a ver).
Bom, cada louco com suas manias. As minhas – pelo menos um quarto delas, no momento – parecem um tanto escatológicas. Só que Nietzsche nos pede isso. Obriga-nos a esse tipo de obscenidade. Ele não nos larga, quer nos ver nus (acho que isso pede mais uma alma despida do que uma calça arriada, enfim), seus aforismos nos querem para eles, não se contentam apenas com nossos olhos, querem tudo. E como nos sentimos hipócritas aos lê-los! Os dedos ficam até meio doloridos de tanto receber marteladas. Dói, mas é por isso que faz bem. Quem teria coragem de nos dizer tantas verdades assim? Pois esse alemão tem! Por isso o levo ao sanitário comigo, mesmo que – se fosse ainda vivo – me odiasse por isso, mas entendam que o tempo não pode ser perdido assim, nem aqueles íntimos do banheiro, pois, como já dizia Sêneca: “[...] ninguém pensa que alguém lhe deva algo ao tomar o seu tempo, na verdade, ele é único, e mesmo aquele que reconhece que o recebeu não pode devolver esse tempo de quem tirou.” Sigo este princípio!
Quanto aos poemas, não pensem que os esqueço na prateleira. Leio um a um, não pelo começo ou pelo princípio do livro, mas do meio. Nessa modalidade não sigo as páginas, sigo o coração. Ou seja, os que me tocam vou lendo, assim nunca se acabam. Confesso até que nesses últimos dias traí Nietzsche, Quiroga, Proust e a Medeiros, com eles. Se os conheço bem, acho que me perdoariam – menos o Fritz, ele acho que não! 

Já encerrando, tal como uma das fábulas de Esopo, deixo uma moral no final: “não leia como eu leio, crianças, permitam-se a sobriedade de uma bela ca...!”  

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