Durante a semana estive
entre as leituras dos livros: “Humano, demasiado humano”, de Friedrich
Nietzsche; “Contos de amor, de loucura e de morte”, de Horácio Quiroga; “O fim
do ciúme e outros contos”, de Marcel Proust; e, para inspirar as tintas dos
dedos, “Felicidade”, de Martha Medeiros. Como sou indeciso, organizei da
seguinte forma. O primeiro (de filosofia), leio no banheiro; o segundo (mais gostoso
na linguagem), degusto no carro enquanto espero a esposa sair do trabalho; o
terceiro, (pouco mais sisudo), embala-me as noites; e o último deixo vazar,
parte a parte, entre os pensamentos de minhas “cronicações escrivinhadas”.
A filha diz que isso é
nojento e que cada coisa deve estar no seu lugar, mas minha “cartesianisse” não
me deixa. Não posso perder nem aquele tempinho íntimo com o vaso. Eu sei, a
filhota também já me proibiu de ver os livros dela no banheiro (digo bem, “ver
os livros”, pois chega um momento em que já não lemos, passamos a ver).
Bom, cada louco com
suas manias. As minhas – pelo menos um quarto delas, no momento – parecem um
tanto escatológicas. Só que Nietzsche nos pede isso. Obriga-nos a esse tipo de
obscenidade. Ele não nos larga, quer nos ver nus (acho que isso pede mais uma
alma despida do que uma calça arriada, enfim), seus aforismos nos querem para
eles, não se contentam apenas com nossos olhos, querem tudo. E como nos
sentimos hipócritas aos lê-los! Os dedos ficam até meio doloridos de tanto
receber marteladas. Dói, mas é por isso que faz bem. Quem teria coragem de nos
dizer tantas verdades assim? Pois esse alemão tem! Por isso o levo ao sanitário
comigo, mesmo que – se fosse ainda vivo – me odiasse por isso, mas entendam que
o tempo não pode ser perdido assim, nem aqueles íntimos do banheiro, pois, como
já dizia Sêneca: “[...] ninguém pensa que alguém lhe deva algo ao tomar o seu
tempo, na verdade, ele é único, e mesmo aquele que reconhece que o recebeu não
pode devolver esse tempo de quem tirou.” Sigo este princípio!
Quanto aos poemas, não
pensem que os esqueço na prateleira. Leio um a um, não pelo começo ou pelo
princípio do livro, mas do meio. Nessa modalidade não sigo as páginas, sigo o
coração. Ou seja, os que me tocam vou lendo, assim nunca se acabam. Confesso
até que nesses últimos dias traí Nietzsche, Quiroga, Proust e a Medeiros, com
eles. Se os conheço bem, acho que me perdoariam – menos o Fritz, ele acho que
não!
Já encerrando, tal como
uma das fábulas de Esopo, deixo uma moral no final: “não leia como eu leio, crianças,
permitam-se a sobriedade de uma bela ca...!”
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