Há pessoas que não
acreditam na literatura infantil e infanto-juvenil. Não sou uma delas. Há algum
tempo, sabendo que o escritor Sérgio Capparelli estaria fazendo uma fala no
auditório da Universidade de Santa Cruz do Sul, não titubei. Em um átimo
resolvi ir. Chamei minha filha, que na época tinha seus aproximados oito aninhos,
e fomos. Havíamos lido “Os meninos da rua da praia”, o que eu tinha era uma
edição velhinha e judiada. Encontrei-a toda esfarrapada em uma biblioteca. Não
me tomem por ladrão, mas não posso suportar uma obra tão bonita criando poeira,
condenada ao esquecimento e ao lixo. Ninguém deu falta. Minha pequena, por
outro lado, sim, líamos sempre à noite quando eu chegava da faculdade.
Enfim, fomos à
palestra. Encantado com tanta vozearia bonita. Olhei para a filhota e percebi
que aquele Sr. a atraía. Inédito para uma criança ser atraída assim, ainda mais
num espaço acadêmico – só que ele não era ‘academicista’, tratava-se de uma
criança que habitava, sem solução, o corpo e as barbas daquele homem. Por cima
dos ombros, observei que algumas pessoas – acho que do Curso de Pedagogia –
estavam enfastiadas e apreensivas com aquela fala. Foi quando vi uma enorme
fila indiana. Esvaziou-se o lugar. Confesso que fiquei envergonhado por isso,
mas não durou muito, logo passou. Descobri que não posso condenar os outros por
não gostarem de poesia, sobretudo dos autores que escrevem para nossos
pequenos. É preciso crer na “Terra do Nunca”!
Quando acabou, peguei
na mão da Eduarda (minha filha) e fomos ver se conseguíamos um dedo de prosa
com o autor. Levamos junto o tal livro e, sem questionar a velhice da obra, ele
a autografou para nós. Não me contive, comecei a perguntar coisas e mais
coisas. Só que ele não estava interessado em mim. Olhou para a filhota e
começou a questioná-la. Afinal, ele escrevia para ela, não para mim, se eu o
lia era por ser metido, tudo aquilo tinha um dono: as crianças. Como eu
respondia por ela, ele logo me olhou, parecia censurar minha interferência. Até
que me calei. “Qual é o seu nome,
menina?” “Dudinha” – ela respondeu. “E gostou mesmo deste livro?” “Sim, meu pai
já leu pra mim. Ele é o da tartaruguinha!...” Percebi em seu rosto que ele se
encantou. Acho que é possível que até tenha me perdoado pela intromissão.
Há outros tantos
autores que escrevem bonito, como Capparelli, é só prestar atenção no que as
crianças te dizem ao entrar em uma livraria. Hoje tenho muitas obras dele aqui
em casa. As coisas andam melhores, fiquem tranquilos, já posso comprar.
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