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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O POETA DAS CRIANÇAS


Há pessoas que não acreditam na literatura infantil e infanto-juvenil. Não sou uma delas. Há algum tempo, sabendo que o escritor Sérgio Capparelli estaria fazendo uma fala no auditório da Universidade de Santa Cruz do Sul, não titubei. Em um átimo resolvi ir. Chamei minha filha, que na época tinha seus aproximados oito aninhos, e fomos. Havíamos lido “Os meninos da rua da praia”, o que eu tinha era uma edição velhinha e judiada. Encontrei-a toda esfarrapada em uma biblioteca. Não me tomem por ladrão, mas não posso suportar uma obra tão bonita criando poeira, condenada ao esquecimento e ao lixo. Ninguém deu falta. Minha pequena, por outro lado, sim, líamos sempre à noite quando eu chegava da faculdade.
Enfim, fomos à palestra. Encantado com tanta vozearia bonita. Olhei para a filhota e percebi que aquele Sr. a atraía. Inédito para uma criança ser atraída assim, ainda mais num espaço acadêmico – só que ele não era ‘academicista’, tratava-se de uma criança que habitava, sem solução, o corpo e as barbas daquele homem. Por cima dos ombros, observei que algumas pessoas – acho que do Curso de Pedagogia – estavam enfastiadas e apreensivas com aquela fala. Foi quando vi uma enorme fila indiana. Esvaziou-se o lugar. Confesso que fiquei envergonhado por isso, mas não durou muito, logo passou. Descobri que não posso condenar os outros por não gostarem de poesia, sobretudo dos autores que escrevem para nossos pequenos. É preciso crer na “Terra do Nunca”!
Quando acabou, peguei na mão da Eduarda (minha filha) e fomos ver se conseguíamos um dedo de prosa com o autor. Levamos junto o tal livro e, sem questionar a velhice da obra, ele a autografou para nós. Não me contive, comecei a perguntar coisas e mais coisas. Só que ele não estava interessado em mim. Olhou para a filhota e começou a questioná-la. Afinal, ele escrevia para ela, não para mim, se eu o lia era por ser metido, tudo aquilo tinha um dono: as crianças. Como eu respondia por ela, ele logo me olhou, parecia censurar minha interferência. Até que me calei.  “Qual é o seu nome, menina?” “Dudinha” – ela respondeu. “E gostou mesmo deste livro?” “Sim, meu pai já leu pra mim. Ele é o da tartaruguinha!...” Percebi em seu rosto que ele se encantou. Acho que é possível que até tenha me perdoado pela intromissão.

Há outros tantos autores que escrevem bonito, como Capparelli, é só prestar atenção no que as crianças te dizem ao entrar em uma livraria. Hoje tenho muitas obras dele aqui em casa. As coisas andam melhores, fiquem tranquilos, já posso comprar. 

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