Certa vez li uma obra
chamada “Ora bolas!”. Trata-se de alguns relatos bem-humorados nos quais Mario
Quintana é protagonista. Ali os acontecimentos cotidianos do poeta (enquanto
trabalhava em um jornal de Porto Alegre) foram coletados e descritos pelo
jornalista Juarez Fonseca. Os textos vão desde “o catar de milhos” em uma
máquina de escrever, até os efeitos causados em seus algozes que, sem
conhecê-lo direito, lançavam algumas “criticazinhas” – como ele mesmo gostava de
dizer. Livro gostoso e capaz de nos arrancar algumas gargalhadas. Leitura sobre
a beleza de poder perceber o homem por detrás do ‘passarinhador’ de palavras
que foi.
Ainda recordo de uma
passagem. Uma que me marcou bastante. Dia desses, enquanto revirava as gavetas
de sua escrivaninha, acabou encontrando uma fotografia sua enquanto criança.
Sem titubear ele logo falou: “Ora bolas! O que estaria pensando de mim este
guri?” Sim, justamente é este o efeito que as fotos registram. Elas captam um
tempo e um espaço de nós mesmos, dos lugares. Tempos e lugares que não podem se
encontrar mais, a não ser na memória. Quantos Quintanas não deveriam ter
habitado aquele corpo de velhinho bonachão? Sorte nossa! Cada um deles está fotografado
em algum poema seu.
Também conheço alguns
‘apanhadores de tempos’ – e para ser um deles é necessário ter os olhos bons,
bem afinados para as luzes e verdades que as cores lançam sobre nós. Por essa
razão, acredito que os fotógrafos tenham também um pouco de poetas quando
focalizam, esperam e jogam para a eternidade um momento poético.
Há pouco, enquanto
conferia alguns e-mails e respondia a alguns comentários ‘no amigo da solidão
multidada’ (o Facebook), passei o dedo sobre um ‘link’ que me levou a outro e
mais outros. Era o blog de meu colega Irineu. Junto às fotos, congelei por
algum tempo. Ali percebi a força de um olhar sensível sobre os elementos do
mundo, não como os meus (que se perdem retratando tudo, utilizando as tecnologias
dos celulares), olhos melhores, aqueles com perspectivas mais bem estudadas e
dinâmicas.
Ufa! Encontrei,
finalmente, os refúgios para estas órbitas cansadas!
Enfim, quanto a mim,
não posso resgatar lugares nem luzes, ao menos não como os poetas e os
fotógrafos. O que faço é tentar recuperar o que meus olhos e ouvidos deixam
vazar para a pele, para os dedos. Queria que minhas “croniquinhas” tivessem a
qualidade de um Quintana, ou de um Irineu Dimário. Sorte que tenho a obra dos
dois, uma em livros, outras em fotografias. Ora bolas! Acho até que sou feliz!
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