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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

ORA BOLAS!


Certa vez li uma obra chamada “Ora bolas!”. Trata-se de alguns relatos bem-humorados nos quais Mario Quintana é protagonista. Ali os acontecimentos cotidianos do poeta (enquanto trabalhava em um jornal de Porto Alegre) foram coletados e descritos pelo jornalista Juarez Fonseca. Os textos vão desde “o catar de milhos” em uma máquina de escrever, até os efeitos causados em seus algozes que, sem conhecê-lo direito, lançavam algumas “criticazinhas” – como ele mesmo gostava de dizer. Livro gostoso e capaz de nos arrancar algumas gargalhadas. Leitura sobre a beleza de poder perceber o homem por detrás do ‘passarinhador’ de palavras que foi.
Ainda recordo de uma passagem. Uma que me marcou bastante. Dia desses, enquanto revirava as gavetas de sua escrivaninha, acabou encontrando uma fotografia sua enquanto criança. Sem titubear ele logo falou: “Ora bolas! O que estaria pensando de mim este guri?” Sim, justamente é este o efeito que as fotos registram. Elas captam um tempo e um espaço de nós mesmos, dos lugares. Tempos e lugares que não podem se encontrar mais, a não ser na memória. Quantos Quintanas não deveriam ter habitado aquele corpo de velhinho bonachão? Sorte nossa! Cada um deles está fotografado em algum poema seu.
Também conheço alguns ‘apanhadores de tempos’ – e para ser um deles é necessário ter os olhos bons, bem afinados para as luzes e verdades que as cores lançam sobre nós. Por essa razão, acredito que os fotógrafos tenham também um pouco de poetas quando focalizam, esperam e jogam para a eternidade um momento poético.
Há pouco, enquanto conferia alguns e-mails e respondia a alguns comentários ‘no amigo da solidão multidada’ (o Facebook), passei o dedo sobre um ‘link’ que me levou a outro e mais outros. Era o blog de meu colega Irineu. Junto às fotos, congelei por algum tempo. Ali percebi a força de um olhar sensível sobre os elementos do mundo, não como os meus (que se perdem retratando tudo, utilizando as tecnologias dos celulares), olhos melhores, aqueles com perspectivas mais bem estudadas e dinâmicas.
Ufa! Encontrei, finalmente, os refúgios para estas órbitas cansadas!

Enfim, quanto a mim, não posso resgatar lugares nem luzes, ao menos não como os poetas e os fotógrafos. O que faço é tentar recuperar o que meus olhos e ouvidos deixam vazar para a pele, para os dedos. Queria que minhas “croniquinhas” tivessem a qualidade de um Quintana, ou de um Irineu Dimário. Sorte que tenho a obra dos dois, uma em livros, outras em fotografias. Ora bolas! Acho até que sou feliz! 

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