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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

POSSO ESCREVER OS VERSOS MAIS TRISTES ESTA NOITE


Hoje, buscando referências para uma possível crônica, fui até a bibliotequinha de minha filha e encontrei o “Me ajude a chorar”, do escritor gaúcho Fabrício Carpinejar. Logo de início dei de olhos com uma epígrafe de Pablo Neruda: "Posso escrever os versos mais tristes esta noite". Como não sou poeta (não tenho a verve), narro as ‘desacontecências’ do impacto que o verso me causou.
Explico:
Minhas tardinhas não sabem de mim, elas é que me impõem as suas “noturnações”. Por outro lado, hoje à tarde, ao observar o mundo pela minha janela, ocorreu-me isso: “Cada bater de asas de uma pequena borboleta é um mundo inteiro que nunca mais se repete.” Sim, estar triste é isso. É se esquecer de tudo o que é único e lembrar somente do que não volta mais. Como dizem os populares: “Ao olharmos para o passado, engordamos a depressão; para o futuro, a ansiedade.” Mas advirto: Se pensamos em uma dessas situações durante o dia, quando a noite chegar, ela te fará a cobrança. A dama escura é compreensiva – tudo bem! –, contudo, ela insiste em nos acender as memórias mais tristes por debaixo de seu manto.
Houve um tempo em que eu dormia, trapaceava seus encantos, seu manto. Hoje virei um “noturnador”. Deixo-me acender pelos grilos que iluminam meu gramado enquanto eu fico aqui dentro, nos interiores. Razão sempre há para “sofrenar” uma distância, ou quem sabe um perto mais íntimo. Isso pode até causar prazer, se bem canalizado. Nesta noite culpo o poeta. Senti-me obrigado a contar o quanto repercutiu em mim aquele verso. Sinto-o ainda ressoando, como um veludo arraigado na pele.
Noite, neste momento ela me cobre, eu é que me descubro dela. Não tem jeito, meus pés sempre ficam pra fora – se não eles, a cabeça. Apesar de grande, a escuridão parece pequena, sempre “enfaroa” alguma luz, esta “enfarenta” iluminação que não me deixa dormir. A única possibilidade de libertação está aqui, escrever, “noturnar” a tristeza que me causou esse sussurro do Neruda. Quanta inquietação!
É difícil deixar isso pra lá. Queria não ter aberto o livro. Por que fui procurar vontades que eu ainda nem tinha? Bom! Agora já não posso fugir. Passarei a madrugada com esse pedaço de víscera do Pablito a se palavrear no ritmo do peito. Fugir? Poderia. Só que para isso teria que ter antevisto aquele bater de asas dessa borboleta chilena. Quantas batidas mais preciso dar só para tentar entender uma única batida?

E o poema segue voando, enfim! 

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