“Todos
estamos sozinhos por debaixo de nossas peles”. Foi o que disse o ator Paulo
Autran a uma entrevistadora da TV Cultura ao ser indagado sobre não ter formado
família (ou ao menos não morar com alguma). Todos temos nossos moldes, moldes
que nem sabemos que foram herdados e que estão aí só para nos deixar um pouco
sem jeito perante algumas situações que pedem um contato pouco maior com seres
– acredito – mais livres. Eu mesmo (há mais ou menos dois anos), ao conhecer um
colega professor, depois de um tempo curto de convivência, achei-o tão
interessante que larguei essa: “Um dia tu poderias vir a minha casa com sua
esposa”. Claro, só porque ele era adulto, já com certa idade, em minha cabeça
encaixotada, ele tinha que ter esposa e, indo mais além, filhos. Aprendi com a
resposta do amigo: “Não, precisava ter?” Não, meu caro, eu é que reaprendi a
ter um pouco mais de bom-senso e uma pitadinha de “agoras”. Nem imaginava que
andava preso em uma jaula judaico-cristã. É daí que vem a tal família no nuclear:
um homem, uma mulher e algumas crianças (nem falo em uma).
A
vida é mesmo simples. Complicação? Isso é por nossa conta. Imagine. Sou um leitor
voraz de Machado de Assis. Pensando nisso, como pude cair nessa armadilha tão
velha? Ele mesmo termina suas Memórias Póstumas de Brás Cubas, assim: “Não tive
filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.” Eu tive,
tive duas, e para homenagear ao mestre Machado, pus o nome da segunda de
Caroline. Uma alusão a Carolina Xavier de Novaes, esposa dele. Meio nuclear,
eles. Enfim.
Lembrei-me
de uma coisa. Há alguns anos, enquanto lia em um ônibus a obra “Dom Casmurro” –
ainda lembro –, um rapaz (um que se sentou ao meu lado) perguntou-me se eu era
religioso ou coisa do gênero. Perguntei por quê. “É que pobre quando está
lendo, só pode ser a bíblia”. Nossa! Aquilo me assustou! E ele nem atentou para
as palavras que eu tinha nas mãos!
Assim
é! Todos parecem ter receio de livros grossos e do nosso Joaquim Maria Machado
de Assis, especificamente, porém poucos de nós damos uma chance e um tempo para
ele. Quem sabe, lendo-o, não saíssemos um pouco da caixinha de que falei acima?
Machado
de Assis não é difícil, meus amigos. Difícil é a vida, esta vilã. O bruxo
apenas nos faz rir dela. Caçoa, tripudia, ironiza e, até hoje, mesmo depois de
morto, não cansa de brincar com ela e conosco.
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