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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

NO FIO DO MACHADO


“Todos estamos sozinhos por debaixo de nossas peles”. Foi o que disse o ator Paulo Autran a uma entrevistadora da TV Cultura ao ser indagado sobre não ter formado família (ou ao menos não morar com alguma). Todos temos nossos moldes, moldes que nem sabemos que foram herdados e que estão aí só para nos deixar um pouco sem jeito perante algumas situações que pedem um contato pouco maior com seres – acredito – mais livres. Eu mesmo (há mais ou menos dois anos), ao conhecer um colega professor, depois de um tempo curto de convivência, achei-o tão interessante que larguei essa: “Um dia tu poderias vir a minha casa com sua esposa”. Claro, só porque ele era adulto, já com certa idade, em minha cabeça encaixotada, ele tinha que ter esposa e, indo mais além, filhos. Aprendi com a resposta do amigo: “Não, precisava ter?” Não, meu caro, eu é que reaprendi a ter um pouco mais de bom-senso e uma pitadinha de “agoras”. Nem imaginava que andava preso em uma jaula judaico-cristã. É daí que vem a tal família no nuclear: um homem, uma mulher e algumas crianças (nem falo em uma).
A vida é mesmo simples. Complicação? Isso é por nossa conta. Imagine. Sou um leitor voraz de Machado de Assis. Pensando nisso, como pude cair nessa armadilha tão velha? Ele mesmo termina suas Memórias Póstumas de Brás Cubas, assim: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.” Eu tive, tive duas, e para homenagear ao mestre Machado, pus o nome da segunda de Caroline. Uma alusão a Carolina Xavier de Novaes, esposa dele. Meio nuclear, eles. Enfim.
Lembrei-me de uma coisa. Há alguns anos, enquanto lia em um ônibus a obra “Dom Casmurro” – ainda lembro –, um rapaz (um que se sentou ao meu lado) perguntou-me se eu era religioso ou coisa do gênero. Perguntei por quê. “É que pobre quando está lendo, só pode ser a bíblia”. Nossa! Aquilo me assustou! E ele nem atentou para as palavras que eu tinha nas mãos!
Assim é! Todos parecem ter receio de livros grossos e do nosso Joaquim Maria Machado de Assis, especificamente, porém poucos de nós damos uma chance e um tempo para ele. Quem sabe, lendo-o, não saíssemos um pouco da caixinha de que falei acima?
Machado de Assis não é difícil, meus amigos. Difícil é a vida, esta vilã. O bruxo apenas nos faz rir dela. Caçoa, tripudia, ironiza e, até hoje, mesmo depois de morto, não cansa de brincar com ela e conosco. 


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