Sempre
desconfio de escritores que se ‘autoproclamam’ poetas. Poetas não se chamam,
eles são chamados. Não creio que isso seja uma profissão, ou um colar de
brilhantes – tipo aqueles em que as mulheres ricas expõem em grandes festas
sociais –, pois de todos os gêneros, a poesia é a que dá mais trabalho,
justamente por ser simples. Ela exige mais do que intimidade com as palavras,
apenas. Ela quer a transgressão dela e de ti, quer sua alma inteira envolvida.
Roga fazer amor contigo para que depois ela, através de tuas vozearias, possa
amar outros corpos.
Sei
também que poetas maiores (Carlos Drummond de Andrade, Manoel de Barros,
Ferreira Gullar...) se definem assim. Só que, vejam bem, houve um mundo inteiro
de vozes que lhes aceitaram e os reconheceram desse modo. Repito: isso não é
profissão. Não há como simplesmente se autoafirmar. É muito mais. O ‘Ser-poeta’
é uma missão tão bonita quando a das cozinheiras: que é a de alimentar os
outros. Precisamos conhecer até o peso das próprias mãos para não exagerar ou
economizar nos temperos. Confesso que quando alguém me chama de poeta, sem
titubear, digo o seguinte: “sou um ‘poeteiro’, meus espíritos não têm o
fingimento para não fingir um poema pertencente a mim e, ao mesmo tempo, a
todas as pessoas do mundo.” Sou apenas um faceiro das palavras, só tenho olhos
para reconhecer as poesias dos outros. Sei bem apreciar um prato fino. Empresto
minhas vozes aos bons chefes. Acho que sou uma ponte, nada mais.
Já
li muita coisa boa para fora dos livros. Há um espaço na rede social chamado
“Poesia! Santa Cruz do Sul”, por exemplo. Espaço criado para motivar os poetas
da região a se entregarem, a terem coragem para sentir seus poemas ganhando
força nas palavras gritadas de alguns olhos mais apaixonados que passam por
ali. Unir os espíritos do cotidiano à vida rotineira e breve do “Facebook” tem
sido uma experiência muito rica, pois como já afirmei aos idealizadores
(Fernando Krebs e Thomás Weeis): “dá para respirar...”. Gosto de sentir todas
as produções. Sinto prazer em ir percebendo as penas virarem asas e, em seguida,
passarinhos que nos convidam a os acompanhar em um longo voo. Não, meus amigos,
continuo com a assertiva: ‘poetas não se chamam, são chamados’, mesmo que ali
alguns voem e nos chamem para cima. Gosto de pensar que todos se ‘poetam’ por
lá, esses pintores! Que ares mais limpos que criaram! Uma pasárgada
passarinhada de pássaros que a cada visita minha (sou um leitor), observo ainda
mais distante, não do mundo, mas de lonjuras de altura.
Começo
a acreditar no poema de Baudelaire. Albatrozes não foram feitos para o chão,
suas asas são enormes e não se dão bem em terra firme. Eles precisam ter um céu
para voar. Tal como esses nobres ‘plumados’, os poetas também são patetas do
chão, suas asas os atrapalham de andar. Seu lugar é lá, ganhando o firmamento
em um desses “pertos” tão raros chamado “Poesia! Santa Cruz do Sul”. Ando me
salvando por ali. Salvem-se também!
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