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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

POESIA NA REDE


Sempre desconfio de escritores que se ‘autoproclamam’ poetas. Poetas não se chamam, eles são chamados. Não creio que isso seja uma profissão, ou um colar de brilhantes – tipo aqueles em que as mulheres ricas expõem em grandes festas sociais –, pois de todos os gêneros, a poesia é a que dá mais trabalho, justamente por ser simples. Ela exige mais do que intimidade com as palavras, apenas. Ela quer a transgressão dela e de ti, quer sua alma inteira envolvida. Roga fazer amor contigo para que depois ela, através de tuas vozearias, possa amar outros corpos.
Sei também que poetas maiores (Carlos Drummond de Andrade, Manoel de Barros, Ferreira Gullar...) se definem assim. Só que, vejam bem, houve um mundo inteiro de vozes que lhes aceitaram e os reconheceram desse modo. Repito: isso não é profissão. Não há como simplesmente se autoafirmar. É muito mais. O ‘Ser-poeta’ é uma missão tão bonita quando a das cozinheiras: que é a de alimentar os outros. Precisamos conhecer até o peso das próprias mãos para não exagerar ou economizar nos temperos. Confesso que quando alguém me chama de poeta, sem titubear, digo o seguinte: “sou um ‘poeteiro’, meus espíritos não têm o fingimento para não fingir um poema pertencente a mim e, ao mesmo tempo, a todas as pessoas do mundo.” Sou apenas um faceiro das palavras, só tenho olhos para reconhecer as poesias dos outros. Sei bem apreciar um prato fino. Empresto minhas vozes aos bons chefes. Acho que sou uma ponte, nada mais.
Já li muita coisa boa para fora dos livros. Há um espaço na rede social chamado “Poesia! Santa Cruz do Sul”, por exemplo. Espaço criado para motivar os poetas da região a se entregarem, a terem coragem para sentir seus poemas ganhando força nas palavras gritadas de alguns olhos mais apaixonados que passam por ali. Unir os espíritos do cotidiano à vida rotineira e breve do “Facebook” tem sido uma experiência muito rica, pois como já afirmei aos idealizadores (Fernando Krebs e Thomás Weeis): “dá para respirar...”. Gosto de sentir todas as produções. Sinto prazer em ir percebendo as penas virarem asas e, em seguida, passarinhos que nos convidam a os acompanhar em um longo voo. Não, meus amigos, continuo com a assertiva: ‘poetas não se chamam, são chamados’, mesmo que ali alguns voem e nos chamem para cima. Gosto de pensar que todos se ‘poetam’ por lá, esses pintores! Que ares mais limpos que criaram! Uma pasárgada passarinhada de pássaros que a cada visita minha (sou um leitor), observo ainda mais distante, não do mundo, mas de lonjuras de altura.

Começo a acreditar no poema de Baudelaire. Albatrozes não foram feitos para o chão, suas asas são enormes e não se dão bem em terra firme. Eles precisam ter um céu para voar. Tal como esses nobres ‘plumados’, os poetas também são patetas do chão, suas asas os atrapalham de andar. Seu lugar é lá, ganhando o firmamento em um desses “pertos” tão raros chamado “Poesia! Santa Cruz do Sul”. Ando me salvando por ali. Salvem-se também!

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