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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

AFINAÇÃO...


Sempre que os olhos discordam dos lábios, um pensamento escapa.
Os gostos também são sentidos pelos traços. Talvez eles até digam muito mais do que as palavras possam dizer, prestando a devida atenção – claro! Se descrevêssemos um rosto, por exemplo, (seja ele feliz ou amargurado), não conseguiríamos nem chegar perto do que sentimos ao vê-lo de fato, pois ‘personas’ (máscaras) são para “estar”, dentro delas é onde o “ser” se esconde.
Os antigos gregos, durante as apresentações de suas peças, optavam sempre por dois tipos de “personas”. Se fosse comédia, o semblante era “naturalmente” sorridente. Tragédia, triste, de boca e olhos caídos. Nietzsche as relacionava como dionisíacas e apolíneas, respectivamente. Contudo, sabemos que temos mais. Há um arsenal inteiro de ‘faces’ a ser explorada no dia a dia. É frequente abrirmos o leque e escolhemos a que melhor condiz com a necessidade. Saibam que, em um único momento, podemos vestir várias delas, entretanto há um átimo de vulnerabilidade entre as trocas, e é ali que ficamos nus perante um olhar mais atento e apurado.
Existem, inclusive, tipos de rostos que se apresentam comuns em nosso cotidiano: os abertos e os fechados. Os primeiros são aqueles que se perdem para que os outros possam acontecer, os felizes demais; os segundos se gastam em amarguras e parecem descolorir qualquer encanto que se aproxime de seu foco (chamo-os de “murcha-flores”). Estes são perigosos, uma vez que se acostumam aos rostos, gostam de ficar, e assim que resolvemos tirá-los, descobrimos, então, que já é tarde, as máscaras já estão impressas nas linhas e nos contornos – e tudo desalinha, engessa-se naquelas expressões.  
Está certo que somos complexos, porém, enquanto parte de um grupo (no momento em que estamos nele), não tem jeito, ficamos desprotegidos pelo simples fato de nos sentirmos protegidos. A tendência é sempre nos perdermos. Deixamos de existir para suprir o medo do que alguém pensaria de nós. Nisso nos tornamos seres fáceis demais.
Bom, agora já podemos escolher as máscaras: as que desafinam a existência, ou as que se afinam com nossos verdadeiros rostos. A escolha sempre está em nossas mãos, mas, em verdade, nenhuma delas pode nos cobrir por uma vida inteira.
Boa sorte!!!


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