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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

A VIDA É BELA


Como minha filha se interessa por tudo que diz respeito à Segunda Guerra Mundial, resolvi provocar ainda mais suas vontades com uma obra fílmica. Explico: há muito que a mocinha ocupa-se com isso. Sua fascinação histórica começou primeiro pelo livro “O Diário de Anne Franke”. Leu também outros “judeus”, como Kafka (mesmo sabendo que ele não viveu em tempos de tal horror) e Hannah Arendt. Ainda ocupou-me os ouvidos perguntando tudo sobre Moacyr Scliar. Judiou-me – não, ‘judiar’ que dizer “sofreu como um judeu” (acho melhor substituir o termo, vou mudar) –, melhor, perseguiu-me com sua curiosidade até eu confessar tudo o que sabia. De onde ela tira toda essa paixão?
Enfim, chamei-a e assistimos juntos ao filme “A vida é bela”. Uma versão lúdica e de muito bom gosto sobre os campos de concentração e o ‘fasci-nazismo’ ocorrido na Itália. Tudo estava muito bem. A história deveria ser de amor. Tudo, até os cidadãos judeus serem recolhidos e varridos das cidades. Contudo, com uma capacidade imaginativa muito poderosa, Guido, o pai, consegue fazer com que seu filho acredite que tudo não passa de uma espécie de gincana. A obra faz um brinde à vida, ao lúdico sendo exercido em lonjuras cheias de realidade bruscas e violentas. Guido deu a vida para que seu pequeno não sentisse o horror. Morreu para que seu garotinho não perdesse as cores da vida nos escuros dos brancos e vermelhos das suásticas. Tornou aquela infância bela, mesmo pagando caro por isso. Não há como não se emocionar e sofrer marretadas de “o que fizeram com essa gente?” Minha filhota amou a obra, mas morreu um pouco também, claro, porque a vida é feita de pequenas mortes. É necessário saber vivê-las para que não morramos mais – pelo menos não pelas mesmas.
O relato me fez recordar de como nos comportamos. De certa forma, pelo menos já percebi, as pessoas ainda andam seguindo os princípios de raça A, raça B, raça C... Credo! Prefiro a definição que nos provoca Mia Couto: “cada homem é uma raça”. No que completo: cada qual é uma raça inteirinha de si mesmo. Saibam que ninguém é pior do que eu. Sou único, você é único. Portanto, sim, sou o melhor e o pior de todos os de mim. Não há como nos compararmos com os outros, somos dois polos de nós mesmos. Seu semelhante só pode ser bom ou mal em si mesmo, assim como você e eu. Nada além disso. Cada um de nós é singular em sua própria multidão, e ponto. 

E é isso, essa minha menina me faz refletir sobre cada coisa! Dá para sentir meu legado tocando o chão. Ela me inquieta; eu a inquieto. Inquietamo-nos. 

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