Como minha filha se
interessa por tudo que diz respeito à Segunda Guerra Mundial, resolvi provocar
ainda mais suas vontades com uma obra fílmica. Explico: há muito que a mocinha
ocupa-se com isso. Sua fascinação histórica começou primeiro pelo livro “O Diário
de Anne Franke”. Leu também outros “judeus”, como Kafka (mesmo sabendo que ele não
viveu em tempos de tal horror) e Hannah Arendt. Ainda ocupou-me os ouvidos
perguntando tudo sobre Moacyr Scliar. Judiou-me – não, ‘judiar’ que dizer
“sofreu como um judeu” (acho melhor substituir o termo, vou mudar) –, melhor,
perseguiu-me com sua curiosidade até eu confessar tudo o que sabia. De onde ela
tira toda essa paixão?
Enfim, chamei-a e
assistimos juntos ao filme “A vida é bela”. Uma versão lúdica e de muito bom
gosto sobre os campos de concentração e o ‘fasci-nazismo’ ocorrido na Itália.
Tudo estava muito bem. A história deveria ser de amor. Tudo, até os cidadãos
judeus serem recolhidos e varridos das cidades. Contudo, com uma capacidade
imaginativa muito poderosa, Guido, o pai, consegue fazer com que seu filho
acredite que tudo não passa de uma espécie de gincana. A obra faz um brinde à
vida, ao lúdico sendo exercido em lonjuras cheias de realidade bruscas e violentas.
Guido deu a vida para que seu pequeno não sentisse o horror. Morreu para que
seu garotinho não perdesse as cores da vida nos escuros dos brancos e vermelhos
das suásticas. Tornou aquela infância bela, mesmo pagando caro por isso. Não há
como não se emocionar e sofrer marretadas de “o que fizeram com essa gente?”
Minha filhota amou a obra, mas morreu um pouco também, claro, porque a vida é
feita de pequenas mortes. É necessário saber vivê-las para que não morramos
mais – pelo menos não pelas mesmas.
O relato me fez
recordar de como nos comportamos. De certa forma, pelo menos já percebi, as
pessoas ainda andam seguindo os princípios de raça A, raça B, raça C... Credo!
Prefiro a definição que nos provoca Mia Couto: “cada homem é uma raça”. No que
completo: cada qual é uma raça inteirinha de si mesmo. Saibam que ninguém é
pior do que eu. Sou único, você é único. Portanto, sim, sou o melhor e o pior
de todos os de mim. Não há como nos compararmos com os outros, somos dois polos
de nós mesmos. Seu semelhante só pode ser bom ou mal em si mesmo, assim como
você e eu. Nada além disso. Cada um de nós é singular em sua própria multidão,
e ponto.
E é isso, essa minha
menina me faz refletir sobre cada coisa! Dá para sentir meu legado tocando o
chão. Ela me inquieta; eu a inquieto. Inquietamo-nos.
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