Não é de hoje que penso
sobre o Livro VII da “República”, de Platão. Passagem famosa, conhecida por
todos como “O mito da caverna”. Penso que todos já conheçam a história do homem
que, ao se libertar das sombras emitidas por fantoches, acaba conhecendo a luz
e, em seguida, é colocado de volta às figuras manipuladoras da parede. É lógico
que ele não se adapta. Para quem não conhece o mito, pensem no filme Matrix.
Saiba que ali há muitos elementos que remetem diretamente a essa verdade
platônica. Quem não se lembra do Neo? Pois é. O Neo é o homem que vivia dentro
da Matrix, local criado pelas máquinas para manter as pessoas alienadas, em
sono profundo. Elas (as máquina) as usavam como pilhas para dar energia a sua
nova forma de existência. Não é muito diferente daqueles seres da caverna.
Pessoas perdidas por não conhecerem o lado B do disco. Assim como nosso herói,
o homem que se soltou das verdades das sombras, o personagem do filme também
fica em dúvida sobre no que deve acreditar.
Tenho um terceiro
elemento. Somos nós. Sabe aquela poltrona que está de frente a nossa televisão?
Sim, ali é nossa caverna. Passamos os dias só recebendo as sombras do mundo.
Muitas vezes nem questionamos a veracidade dos fatos ou a manipulação que os
donos das marionetes insistem em engendrar. É justo que nos assustemos em saber
disso, mesmo não acreditando em nada para fora dessa “matriz” – é melhor a
poltrona!
Há um livro chamado
“Narciso errante”, escrito pelo professor Donaldo Schüller, que reforça esta –
como ele mesmo diz – “caverna moderna” na qual somos moderados. É bastante comum
as pessoas debaterem unilateralmente. Um empate, mais do que necessariamente um
debate, diga-se de passagem.
Minha filha mesmo,
adepta dos livros e de um gosto musical, digamos, mais apurado, já foi vítima
disso. Acho que há tempos ela escapou da escuridão. De acordo com ela, dia
desses, uma menina proferiu: “Quem tu pensa que é? Isso não é música de verdade,
tu só fala nesse tal de Vinícios sei-lá-do-quê e nesse tal de Chico. Nem parece
que é brasileira, devia gostar de samba, como nós!” – Como se não fosse!
Enfim, há um álbum (se
não me engano é recente) no qual a banda Black Sabbath optou em expor a imagem
do filósofo Nietzsche comendo macarrão. O disco se chama “God is death?”
Sabemos que foi ele quem pôs em Xeque a existência de “God”. De sua boca
escorre massa. A massa somos nós, os habitantes da Matrix, os perdidos que não
tomaram a pílula vermelha. Só quem optou pela azul poderá entender.
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