Era para ser um domingo
como todos os outros. Mas não, tive que passar por aquele livro sobre a mesa.
Queria não poder ver cobras engolindo elefantes. Sou adulto, chapéus é o que
aquele livrinho todo deveria me parecer. Economia, política, o gramado mais
verde do vizinho... Não, como pude ser atraídos por rosas, carneiros, cobras e
raposas? Quero saber quem o deixou assim tão exposto. Sinto-me até um ratinho
que foi pego por uma armadilha. Sou grande, como posso cativar algumas verdades
tão infantis? Nunca entenderei o porquê de tanta paixão. Leia você mesmo esse
fragmento e observe: "A gente só conhece bem as coisas que cativou – disse
a raposa. – Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo
já pronto nas lojas. Mas, como não existem lojas de amigos, os homens não têm
mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me! [...] Tu te tornarás eternamente
responsável por aquilo que cativas." Despautérios!!!
Se o leitor quiser ter-me
como um boboca, sim, lance seu chapéu. Sou um boboca. Ora acreditar que um
garotinho saído de uma obra francesa de um tal
Exupéry pode engordar tanto aquelas lonjuras que nem tenho mais!
Entregar-se aquele livro é como deixar de ser gente grande, sou gente grande, o
mundo me fez um usuário do chapéu. Cobras engolindo elefantes. Ah, pare com
isso! É um chapéu sim. Não me faça revisitar aqueles meninos que fui?
Claro, imagine,
(lembrei agora). Este não foi o primeiro principezinho que já me tentou
“encriançar”. Certo dia, em uma disciplina de férias, num desses verões da
memória, ouvi uma professora com uma espada na mão (pelo menos eu vi a espada,
outros juram que era um livro de poesias), ela chorava. Baixou a espada e
irradiou uma daquelas vozes, parecidas com as da raposa que amou os trigos só
porque lembravam os cabelos amarelinhos do principezinho. Que coisa, cativei aquele
momento. Cativando, não há outro tempo igual, mesmo que pareçam... O que estou
dizendo?
Chapéus, chapéus,
chapéus... Esqueça-se disso, amigo, seja adulto, ninguém gosta de chateações de
infância. Oriente-se, homem! Ora ficar cativando uma memória inventada de um
maluco que não tinha nada para fazer além de nos perturbar as barbas brancas
com essa coisa de criança. Esconjuro-te Antoine de Saint-Exupéry. Vá
‘vagamundar’ em outro lugar. Tenho contas a pagar, não tenho tempo para suas
rosas. Olha aí, me fez até recordar de uma professora maluca como tu. Loucos!!!
Essas pessoas pensam
que temos tempo para brincar... Vou pôr meu chapéu.
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