Os grilos. Como não
amá-los? Afinal, à noite os silêncios clareiam suas pernas. Não é à toa que o
personagem Pinóquio não deu ouvidos ao grilo falante. Acho que é daí a
expressão “sem grilo”, porque nossa consciência é que grila, ela ‘cricrila’
algumas coisas para o consciente. Como eu disse, é no escuro que nossos
pensamentos se iluminam. É quando o corpo para e a cabeça passa a funcionar
mais lucidamente. Sim, à noite os escuros nos empurram para dentro de nós
mesmos, pois toda palavra precisa ganhar tom em alguma voz interior, mesmo as
que se perderam em algum canto.
Uns possuem o ‘dom’ de
organizar todos os sons em cores; outros, menos populares, em silêncios. Acho
que pertenço ao último. Dizem que são nos silêncios (no plural mesmo, são
muitos!) que tudo se organiza. Tenho uma pintura cheia deles no meu quarto, chama-se
janela. Ali cada um serve de tinta para o mundo, para os meus e para os de
outros tantos que há. Só que com um detalhe: ela sempre se renova nas cores. E
à tardinha então... Coisa boa poder sentir os grilos brotarem em iluminações
sonoras na grama. Então, depois de contemplar o quadro/janela. Leio até o dia
cair!
Falando em leitura,
recordei-me de algo... Enquanto estudantes, eu e meu amigo Rodrigo Bartz,
saímos deslumbrados de uma aula de Literatura. Ansiado em contar uma passagem
de um dos livros de Júlio Cortázar, ele se dirigiu a mim dizendo o seguinte:
“Dilso, na Literatura tem que haver moscas, porque quando fechamos a obra, se
ela não te deixar com o zum zum zum em algum dos espíritos, ela não vale a
pena.” “Verdade, amigão! Depois disso, nossos amigos verdinhos podem entrar em
ação, – respondi – e depois nos tomar conta dos pensamentos. Com suas
lamparinas, não há escuro que possa ficar cego. Quando anoitece, abre-se um
olho fechado que nos espia por dentro. Então a história vem clarinha, iluminada
para nos ajudar a terminar o que as moscas começaram. Daí é só agarrar um dos
barulhinhos pela cauda e se enrolar com ele.” É certo, as faceirices da
madrugada são as que arejam melhor cada interioridade.
Enfim, ao final de um
dia cansativo e de leituras intervaladas, o nada se torna um cricrilar que nos
vem cheio de timidez. Agarre-o, uma vez que as moscas me acompanharam o dia todo,
quiseram nos acompanhar. Ultimamente o maior criador tem sido Rubem Alves, mas
já foi (e volta e meia, ainda são) Mia Couto, Manoel de Barros, Fernando
Pessoa, Friedrich Nietzsche, Fiódor Dostoiévski... Nossa! São muitos os
“mosqueiros” que viram “grileiros” para nos iluminar!
Bons
‘cricrilos’!!!
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