Há algum tempo, feliz
da vida, comprei um livro chamado “Entre quatro paredes”, de Jean-Paul Sartre.
Confesso que não foi fácil consegui-lo, já que se trata de uma obra de pouco
interesse para o mercado literário – tal como é o “Segundo sexo”, de Simone de
Beauvoir. Um deles – ainda bem – depois de uma espera bem longa, consegui
adquirir. A Simone ainda está em minha lista de esperas, mas não nutro
esperanças. Pena que o meu Sartre se perdeu nas mãos de uma daquelas vozes
esquecidas do “empresta este livro!” Meu pecado foi atender ao pedido. Nunca
mais o vi. Acho que deve estar servindo de suporte para alguma coisa. Triste!
Enfim, “Entre quatro
paredes” é uma peça teatral (pelo menos sua estrutura é). Ela foi escrita por
um filósofo existencialista – nem precisávamos dizer. Sartre é o nome dele.
O cenário da obra está
em um lugar além da morte: uma sala. O tempo, logicamente, é a eternidade. Os
personagens estão moralmente nus (vestidos com roupas, é claro), mas nus uns
para os outros, sentados em cadeiras que os colocam olhando diretamente para os
defeitos dos da frente. Garcin era um literato. Inês era lésbica e uma
funcionária dos correios. E Estelle, por sua vez, carrega consigo um complexo
de aceitação, ela usa seu corpo em grande parte das situações.
Está aí o inferno
sartriano. Um além-tempo onde os pecados são lavados pelos olhares críticos de
quem está à frente. O inferno tão temido passa a ser o outro, e o outro passa a
ser você (qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência!).
Quem de nós nunca foi
mandado para os quintos dos infernos? Não, meus amigos, esse não é o sartriano,
este conhecemos desde a Idade Média: o inferno judaico-cristão. O motivo de as
pessoas nos mandarem para “os quintos...” é porque neste só há quatro, um para
cada tipo de pecado. Quanto mais grave, mais fundo. Se te mandam para o fundo
do ‘quarto’ – minha nossa! –, essa pessoa acha que tu mereces ainda o pior. O
mais engraçado é que quem te manda para esse calor, nem sabe disso, aposto que
não!
Contudo, sinceramente,
penso que o criado por Sartre pode ser o mais sinistro, pois imagine você
(sobre)vivendo em uma eternidade com pessoas que ficam apontando quem e o que
você é de fato? Sim, leitores, o inferno pode ser aqui, e nem sempre se faz
necessário as quatro paredes de uma morte criada por Sartre. Grande autor. Obra
totalmente catártica, purificadora.
Cuidado com o outro e
com os seus julgamentos. Tu também és outro!
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