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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O INFERNO É O OUTRO


Há algum tempo, feliz da vida, comprei um livro chamado “Entre quatro paredes”, de Jean-Paul Sartre. Confesso que não foi fácil consegui-lo, já que se trata de uma obra de pouco interesse para o mercado literário – tal como é o “Segundo sexo”, de Simone de Beauvoir. Um deles – ainda bem – depois de uma espera bem longa, consegui adquirir. A Simone ainda está em minha lista de esperas, mas não nutro esperanças. Pena que o meu Sartre se perdeu nas mãos de uma daquelas vozes esquecidas do “empresta este livro!” Meu pecado foi atender ao pedido. Nunca mais o vi. Acho que deve estar servindo de suporte para alguma coisa. Triste!
Enfim, “Entre quatro paredes” é uma peça teatral (pelo menos sua estrutura é). Ela foi escrita por um filósofo existencialista – nem precisávamos dizer. Sartre é o nome dele.
O cenário da obra está em um lugar além da morte: uma sala. O tempo, logicamente, é a eternidade. Os personagens estão moralmente nus (vestidos com roupas, é claro), mas nus uns para os outros, sentados em cadeiras que os colocam olhando diretamente para os defeitos dos da frente. Garcin era um literato. Inês era lésbica e uma funcionária dos correios. E Estelle, por sua vez, carrega consigo um complexo de aceitação, ela usa seu corpo em grande parte das situações.
Está aí o inferno sartriano. Um além-tempo onde os pecados são lavados pelos olhares críticos de quem está à frente. O inferno tão temido passa a ser o outro, e o outro passa a ser você (qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência!).
Quem de nós nunca foi mandado para os quintos dos infernos? Não, meus amigos, esse não é o sartriano, este conhecemos desde a Idade Média: o inferno judaico-cristão. O motivo de as pessoas nos mandarem para “os quintos...” é porque neste só há quatro, um para cada tipo de pecado. Quanto mais grave, mais fundo. Se te mandam para o fundo do ‘quarto’ – minha nossa! –, essa pessoa acha que tu mereces ainda o pior. O mais engraçado é que quem te manda para esse calor, nem sabe disso, aposto que não!
Contudo, sinceramente, penso que o criado por Sartre pode ser o mais sinistro, pois imagine você (sobre)vivendo em uma eternidade com pessoas que ficam apontando quem e o que você é de fato? Sim, leitores, o inferno pode ser aqui, e nem sempre se faz necessário as quatro paredes de uma morte criada por Sartre. Grande autor. Obra totalmente catártica, purificadora.

Cuidado com o outro e com os seus julgamentos. Tu também és outro!

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