Sozinho debaixo de uma árvore, ao acaso, folheio suas folhas
e leio, gota a gota, as que vão caindo. Solidão de quem anda por além das
palavras – mesmo que seja a escrita a responsável por manter organizadas as
vozes de nossas multidões, de nossos jardins interiores.
Admito: as palavras
revelam mundos que nem quem escreve vê. Organizações que se constroem pelas
nossas mãos, mas que ganham sentidos novos quando atingem as vozes de outros
olhos. A escrita é uma experiência bem “sozinhada”, enquanto que a leitura revela-se
inteirinha, desde que nascemos. Só nós e ela, porque, como eu gosto de pensar:
jamais conheci alguém que não soubesse ler. Não falo aqui dos códigos
linguísticos, falo dos verdadeiros sabores que, por ventura, elas (as palavras)
podem revelar ou revelar-se por algum dos nossos sentidos. Sempre desconfiei
que estivéssemos no mundo para sentir. Meio torto, eu sei! Leio o mundo assim.
Há um poema do Mário
Quintana, naturalmente muito bonito (e também muito apropriado que ele esteja
em um livro intitulado “A cor do Invisível”), que nos sugere o seguinte: “Todos
os jardins deviam ser fechados/ Com altos muros de um cinza muito pálido [...]/
Porque quem mata o jardim é esse olhar vazio/ de quem por eles passa
indiferentemente.” Ah, o nome do poema!?
Lindo, não é? Chama-se “Jardim Interior”.
Quanto a Rubem Alves,
em “Do amor à beleza”, reproduzo tal e qual está, pois já tirei algumas folhas
do poema de Quintana. Adiante sigo diferente, quero que as próximas rosas
estejam com as pétalas todas no lugar. Quero que as veja assim. Aí vai!
“Quem é que vem
primeiro, o jardim ou o jardineiro? É o jardineiro. Havendo um jardineiro, mais
cedo ou mais tarde um jardim aparecerá. Mas havendo jardim sem jardineiro, mais
cedo ou mais tarde o jardim desaparecerá. Jardineiro é uma pessoa que pensa
jardins. O que faz um jardim são os pensamentos do jardineiro. O que faz um
povo são os pensamentos daqueles que o compõe”.
Leia o mundo, dê uma
tragada, deguste-o, leia-o mais e profundamente. Seja um jardineiro. Só não
deixe que a rotina destrua a beleza toda que está ali – no que completo com as
palavras de Alves: “Beleza não precisa ter sentido. Ela salva sem nada dizer.” Perceba
os milagres, não só do mundo, mas o de sermos capazes de senti-lo. Repito:
nascemos pela pura satisfação de sentir, somos leitores natos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Divida conosco suas impressões sobre o texto!