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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

PLANETÁRIO


Não é de hoje que a vontade de ter um espaço poético me anima. Por conta disso já fui, inclusive, acusado de poeta, filósofo, até mesmo de louco... (tanta coisa!). Apesar disso, confesso que o epíteto que mais me agradou foi o de professor, porque, sendo um, consigo ser muitos sem mudar de roupas.
Contudo, em um desses dias de volta às aulas, deparei-me com um grupo inquieto. Já de cara senti que ali poderia usar meu traje mais bonito. Fiz isso. Vasculhei rapidamente em meu guarda-roupa interior e peguei o melhor terno. Poucas vezes senti vibração igual. 
Ainda me lembro de cada rosto espantado. Dos sorrisos que se iam perdendo nas lonjuras de minhas palavras. Amei aqueles rostos de uma maneira inefável (“infalável”). Em seguida olhei para aquelas paredes. Pareciam mesquinhas perto daqueles espíritos cheios de gorduras, sedentos por mundo. Não titubei, salvei todos dali. E no estacionamento da Escola, bem na sombra de uma Tipuana, foi que nos rebatizamos. Feito isso – sendo já outros – como poderíamos voltar para o mesmo espaço de antes? O jeito foi nomeá-lo também. Houve muitas sugestões, mas sabíamos que não éramos mais aqueles garotos de antes. Então, um de nossos nautas proferiu: “Já que cada um de nós é um mundo inteiro, precisamos de um planetário!” E o nome se fez.
Ao voltarmos – minha nossa! – as paredes pareciam mais afastadas. Elas tinham que dar espaço às novas gorduras de nós mesmos. Voltamos obesos, cheios de autocriações. O rio correu normalmente, só que naqueles dois períodos de aula de Literatura preferíamos aportar em um lugar sem porto, no meio, naquela terceira margem onde não havia passado, nem futuro, onde não era permitido ser grande, ser pequeno, onde não era possível não ser.
Naturalmente, os dias passaram. O ano passou. Desancoramos nossas canoas e o rio levou cada um para um canto diferente da vida. O Planetário saiu das entranhas da escola, e hoje está aí, encantando o mundo de fora com o que viveram por dentro... Sei que eles pertencem ao infinito, ao céu. Eram planetas que já sabiam orbitar. Desejavam só mais um pedaço de infinito para soltar um pouco as barrigas.

Enfim, vivi poucas vezes o que pude sentir no Planetário, espaço pequeno, mas que sabia musicar um cheirinho colorido da mais pura eternidade. Neste momento (neste mesmo tempo em que escrevo) ainda posso sentir os perfumes daqueles pequenos mestres que tive aqui por dentro, em meu universo. Se chorei na despedida? Até hoje não entendo como os formando daquele dia não se afogaram com toda minha cheia...  

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