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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

UM CENTAURO NO GRAMADO


Noite dessas acordei de um sono profundo. A camiseta estava toda suada, bem nojenta mesmo. Agrura de quem sai de um pesadelo quase real. Sonhei que era um animal, e era desprezado, maltratado por isso. Depois do impacto, a primeira coisa que pensei foi o seguinte: ‘Confiar só nos olhos é a forma mais rápida e miserável de empobrecer-se por completo, já que as cores são mais ricas quando o corpo todo colabora para esticar o mundo’.
Sim, meus caros, só é possível ver o verde da grama pelas solas dos pés, sentir a verdura é trabalho para a pele, após sim os olhos ‘desenublam’. Não sei se já notaram isso, mas há elementos no mundo que nossa visão não dá conta, porque, segundo o poeta, sonhamos de olhos fechados para ver se acordamos para dentro. As pessoas, por exemplo, como podem ser lidas se andam com o corpo bloqueado pelo ‘modismo’? Algumas roupas deixam em nós seus códigos de barra, perdidos quando vistas na multidão. Isso é estranho, já que somos seres “desseriados”, únicos, além de sermos os melhores e os piores do universo inteirinho, pois não há e nunca haverá outro igual a nós. O que pode haver – penso eu – é um estilo, uma construção, um homem tanto cavalo, quanto humano. Ou metade de cada, tal como as criaturas de Moacyr Scliar, em seu “O Centauro no Jardim”, que, aliás, é um belo livro!
A diferença sempre assustou os que vivem, ganham para que desejemos ter as mesmas sensações. Isso não é verdade. Os sentidos se organizam ou se confundem para que cada aparelho, quando reunidos, sinta o mundo de maneira que a pessoa ao lado não consiga perceber exatamente da mesma forma da primeira, e vice e versa. Acho tudo tão rico. Por isso é que não podemos desprezar o nosso lado livre de cavalo, nem nossa parte humana e razoada. O irracional e o racional, dividindo o mesmo senso, o mesmo corpo. Sim, fomos feitos para sentir, seja como um animal (que também somos), seja como homens. Quero dizer com isso que racionalizamos demais o mundo. Não dando espaço, assim, para os primeiros sentidos.
Então, ao lerem “O Centauro no Jardim”, pensem bem sobre duas possibilidades: O que estou vendo; e o que querem que eu veja. Amigos, somos todos metade de um todo bem mais rico do que nossa visão viciada quer que vejamos e sejamos. Estamos sempre nos completando, tal como um centauro que corre livre pelo gramado. Enfim.


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