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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

AS ESTRELAS DO CHÃO


Confesso que só escrevo quando alguma coisa me chama atenção. O problema é que tudo me alerta. Cada miudeza me diz respeito. Os amigos, as estantes, minha poltrona e até aquele pequeno realejo de moer música, meu aparelho de som.
Lembro que um dia vi uma entrevista do poeta Manoel de Barros, uma das poucas, pois ele não era dessas coisas. Dizia que olhamos muito para o céu, mas que nos esquecemos daquele universo inteiro que há no chão. Quantas verdades devem existir bem ali, sendo carregadas por uma “filandações” de formigas? Penso até que cada uma delas é uma estrela com muitas perninhas. Negras, amarelo-fugidas, pequenas, grandes, tudo ali.
Em outro momento, ainda recordo de uma das muitas falas do escritor Mia Couto que também me marcou. Como ele é biólogo e escritor, afirmou estar na vantagem, uma vez que as pessoas se veem como uma. Não sabem das milhões de vidas que carregam consigo. Falava das células, bactérias e elementos que só um estudioso da área (os privilegiados) podem saber. Só que saber não basta, aí vem a visão poética sobre a científica. Somente um poeta poderia dizer que cada um de nós é uma multidão, não apenas como abrigo de “micro-vidas”, mas dos muitos de nós que carregamos conosco. Ah! Nosso corpo é mesmo uma casa nômade! O que dizer então do chão?
Como eu estava dizendo. Não há nada que não me inquiete. Descobri nestes dias que não sei mais parar de dedilhar, de ‘tessiturar’ panos e acordes sobre o que (para os outros) não mereceria ser ouvida como música, ou disputada como um tapete persa. Sim, sou o rapaz das coisas simples. Das folhas brancas, verdes, amarelas. Aquele que para tudo só para observar seus gatos rolando como miniaturas de tigres. Certo ou errado deixo as coisas serem, pois assim acabo sendo junto com elas quando me debruço para acompanhá-las em suas grandezas ínfimas.  Até o gramado se tornou minha selva. Não é raro me pegar absorto a refletir sobre quantos hectares de terra tenho em cada m² do pequeno mundo de 12 por 30 m² em que vivo. Sinto-me um fazendeiro.
De minha janela acompanho os grilos iluminando meu céu (ele é verde e com a vantagem de poder apará-lo de vez em quando). Desse modo, sempre que uma tardinha vem chegando – eles se alvoroçam –, um joga um cricrilo pra cá, pra lá, mais outro acolá... E assim os pernudos vão tecendo a coberta que abrigará a noite. Eles são minhas estrelas do chão. É! Cada um tem o firmamento que merece!

Tenham uma boa noite! 

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