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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

EQUOTERAPIA: A CURA PELO ‘PÊLO’


Manhã, o sol ainda nem nasceu, mas estou aqui. Fico esperando que uma nova verdade renasça. Fico aguardando por mim. Neste meio tempo, penso no que prometi aos meus pais: “vou melhorar!”
Nem sempre estive aqui. Passei uma temporada perdido dentro de mim mesmo. Estive em um inferno tão profundo que não vale nem a pena espiar. Pela manhã, como sempre, ia até a casa de minha família para tentar sair daqueles “dentros” sombrios. Não aguentava mais tanta escuridão. Minha mãe, tentando iluminar alguns de meus cantinhos, sempre ressaltava o melhor do que eu era. Meu pai, mais duro, dava-me um pouco de realidade, mas para o bem. Sempre que voltava para casa – sozinho – lia como nunca li. Até quando não fazia, as palavras pareciam que se espalhavam em murmúrios constantes naqueles escuros interiores que eu carregava. ‘Esquizofrenia’ – pensei. Sim, era um início! Nunca a entendi bem e confesso que até sinto falta daquelas vozes todas que se desprendiam de meus livros sem que eu os abrisse. Ah, se eu estivesse bem...
Não, confesso que não voltei sozinho para minhas interioridades. Mesmo sabendo que todos estamos a sós por debaixo de nossas peles (como quer Paulo Autran). Sabia que precisava de ajuda. Certa tarde, então, meu pai me levou até um lugar, num campo desses que se fazem rodeios. Tratava-se de um Centro de Tradições Gaúchas, um CTG. Ali no Candeeiro da Amizade (nome do Centro) vi muitas pessoas e cavalos. Mas não eram homens comuns, nem mesmo os equinos dali se classificavam assim. Vi que havia mais no mundo além de meu sofrimento pessoal. Já li muita coisa nesta vida, mas nunca tinha visto, ao menos não com meus próprios olhos, tanta força de vontade para viver. Olhei para o meu pai e perguntei: “Eles têm algum problema? Quem paga por isso?” E sem olhar para mim, ele respondeu: “Ninguém. Os fisioterapeutas, os psicólogos e até os puxadores fazem isso voluntariamente. Sou um deles. Creio até que nem os cavalos se importam em receber tanto carinho daquelas crianças, pequenos que se sentem incapazes de existir como nós. São especiais. Todos eles são!”
Nossa! Na semana seguinte passei a melhorar. As vozearias dos livros começaram a obedecer minhas vontades. Meu mundo, aos poucos, andou se clareando. Senti-me um egoísta, um ex-prisioneiro do próprio corpo. Como podia estar me sentindo mal comigo mesmo? Aqueles meninos sobre o cavalo. Aqueles ‘centaurinhos’ eram muito melhores do que eu. Nisso comecei a sarar e minhas manhãs são só de espera. Reverencio o Sol.

Hoje não sou mais frustrado, sou um “frestrado”. Deixo que as luzes entrem. 

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