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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

LEMBRANÇAS...


Ainda me lembro de quando nasceu minha primeira filha, a Eduarda. Recordo do cheiro, das mãozinhas, de minha atitude ansiosa ao conferir se todos os dedinhos estavam no lugar, do timbre do choro. Como se esquecer da primeira vez em que conseguiu soprar um assovio. Aqueles lábios pequenos, os mais bonitos que já vi. Naquele tempo eu enchia a paciência de meus amigos. Falava de cada sorriso novo. Cada “boniteza” nos olhos. Nada me escapava. Sabia que a amava como nunca amei outra pessoa. Sua vida tornou-se a minha vida. Seu nome, este não poderia ser qualquer um. Vem de um amigo querido, o Eduardo, que mora em algum cantinho de minhas melhores memórias da infância. Não o vejo desde 1985, mas isso é outra história...
Nunca haverá nenhum momento que se repita. Minha filha não se repete. Aos olhos leigos sim, ela parecerá sempre a mesma, só que para mim... Ah! Lembro-me até dos momentos pesados. Aqueles em que o mundo parecia um gordo a nos esmagar. De quando trabalhava o dia todo e à noite ia para faculdade. Mais tarde, quando chegava, ela estava lá, naquele quartinho apertadinho que dividia espaço com meu velho computador (não tínhamos muito, tudo era magro, menos a nossa vontade de se querer). Deitada em sua cama, ela me ouvia. Ali lemos o livro do Exupéry, alguns da Lygia Bojunga, Ruth Rocha e “Os meninos da rua da praia”, de Sérgio Capparelli. Como era bonito vê-la dormindo. Parecia tão frágil e delicada. Acho que sonhava com as histórias.
Mais tarde, como eu já gostava muito de tudo o que é grego, acabei – de certa forma – influenciando a pequena. Certo dia, na segunda série, ela escreveu uma história mais ou menos assim: “Como estava chovendo e a escola era pequena, a professora resolveu contar o que sabia sobre mitologia, ao chegar à parte em que Atena aparecia (a deusa da sabedoria, e a favorita da Eduarda), parou de chover. Rapidamente a moça da historinha dela pegou uma mangueira e molhou toda a janela da sala. Queria continuar.” Achei bonitinha a forma como descreveu isso. Lembrando que sou pai, não tente me entender!
Certamente, o que mais me marcou, e ainda marca, é vê-la caminhar enquanto lê. Não é raro passarmos por ela absorta em uma nova história. Nestes dias não dou carona. Meu carro não poderia levá-la para as lonjuras em que está. Prefiro não atrapalhar e contemplar tudinho naquela breve eternidade em que se pinta um momento único.

Sim, estou fazendo apologia a minha criança. Entendam, sou um pai doente. Sofro de uma faceirice no espírito esquerdo e que não tem cura nem salvação: a “corujice”. 

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