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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O AMADO IDIOTA


Eis um dos personagens mais fascinantes que já tive o privilégio de assistir em minisséries. Dom Chico Chicote (interpretado por Rodrigo Santoro) é uma mistura de Dom Quixote de la Mancha com Míchkin, do livro “O Idiota”, de Dostoiévski. Falo da obra “Hoje é dia de Maria”, texto lindo acompanhado por um figurino mais bonito ainda. Há até um momento em que ele, o Dom Chicote, canta um poema de Drummond chamado “O lutar”, adaptação muito bem feita e que soube me pegar de jeito. É mais ou menos assim: “!Adelante!/ Lutar pela palavra/ É a luta mais vã/ É pelos sonhos que vamos/ No entanto lutamos/ Mal rompe o amanhã/ Com o vírus de luz/ Levando foram chegando/ Haja ou não haja frutos/ É pelos sonhos que vamos/ É pelos sonhos que vamos...”
Vestindo um livro aberto na cabeça, tal como um chapéu; carregando uma lança; usando bigodes de penas; e andando com as pernas tortas, eis a beleza deste cavalheiro da triste figura. Mescla da literatura de cordel e da clássica, não há limites para a emoção em vê-lo se movimentando na história. Qual leitor nunca imaginou pelo menos um desses seres tão fantásticos, seja Quixote ou outro cujo amor supera a irrealidade? Antes, nunca pude vislumbrar, para fora de minhas leituras, coisa mais linda.  
Tanto nas histórias quanto na vida, o mundo precisa ganhar força, pois enquanto houver encanto no coração humano, a Literatura jamais se perderá – mesmo sem lê-la, ela está aqui, ali. Anda tão longe que chega a encontrar a nós todos nas distâncias de nossas entranhas, porque as lonjuras mais distantes estão dentro de nós, meus amigos! É lá, nessa casa nômade, que vamos nos levando junto, e é nesse cantinho da carona que vai a arte. Um lugar que anda conosco. Sim, é pelos sonhos que vamos.
Quixotescas, as pessoas que escrevem, leem ou se alimentam de arte, sempre estão lutando. Seja pela palavra, pela música, pelo teatro, cada qual cria seus caminhos que, a cada passo, vão se fazendo trilhas novas. Poetas, romancistas, cronistas e “escrivinhadores” feito eu. Somos todos Idiotas como o Chico. Figuras tristonhas que carregam sobre a cabeça uma pilha de livros e, ainda, uma bagagem de sonhos bem abertos. É por isso que escrevemos, não sabemos andar, os caminhos é que nos vão andando.

Enfim, deixo-me aqui, só precisava expressar esta minha vontade de acontecer esse Chico Chicote. Reparto um pouco disso e purifico-me um pouco mais. Assim posso continuar o caminho a andar com essas pernas tortas.  

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