Eis um dos personagens
mais fascinantes que já tive o privilégio de assistir em minisséries. Dom Chico
Chicote (interpretado por Rodrigo Santoro) é uma mistura de Dom Quixote de la
Mancha com Míchkin, do livro “O Idiota”, de Dostoiévski. Falo da obra “Hoje é
dia de Maria”, texto lindo acompanhado por um figurino mais bonito ainda. Há até
um momento em que ele, o Dom Chicote, canta um poema de Drummond chamado “O
lutar”, adaptação muito bem feita e que soube me pegar de jeito. É mais ou
menos assim: “!Adelante!/ Lutar pela palavra/ É a luta mais vã/ É pelos sonhos
que vamos/ No entanto lutamos/ Mal rompe o amanhã/ Com o vírus de luz/ Levando
foram chegando/ Haja ou não haja frutos/ É pelos sonhos que vamos/ É pelos
sonhos que vamos...”
Vestindo um livro aberto
na cabeça, tal como um chapéu; carregando uma lança; usando bigodes de penas; e
andando com as pernas tortas, eis a beleza deste cavalheiro da triste figura.
Mescla da literatura de cordel e da clássica, não há limites para a emoção em
vê-lo se movimentando na história. Qual leitor nunca imaginou pelo menos um
desses seres tão fantásticos, seja Quixote ou outro cujo amor supera a
irrealidade? Antes, nunca pude vislumbrar, para fora de minhas leituras, coisa
mais linda.
Tanto nas histórias
quanto na vida, o mundo precisa ganhar força, pois enquanto houver encanto no
coração humano, a Literatura jamais se perderá – mesmo sem lê-la, ela está
aqui, ali. Anda tão longe que chega a encontrar a nós todos nas distâncias de
nossas entranhas, porque as lonjuras mais distantes estão dentro de nós, meus
amigos! É lá, nessa casa nômade, que vamos nos levando junto, e é nesse
cantinho da carona que vai a arte. Um lugar que anda conosco. Sim, é pelos
sonhos que vamos.
Quixotescas, as pessoas
que escrevem, leem ou se alimentam de arte, sempre estão lutando. Seja pela
palavra, pela música, pelo teatro, cada qual cria seus caminhos que, a cada
passo, vão se fazendo trilhas novas. Poetas, romancistas, cronistas e “escrivinhadores”
feito eu. Somos todos Idiotas como o Chico. Figuras tristonhas que carregam
sobre a cabeça uma pilha de livros e, ainda, uma bagagem de sonhos bem abertos.
É por isso que escrevemos, não sabemos andar, os caminhos é que nos vão
andando.
Enfim, deixo-me aqui,
só precisava expressar esta minha vontade de acontecer esse Chico Chicote.
Reparto um pouco disso e purifico-me um pouco mais. Assim posso continuar o
caminho a andar com essas pernas tortas.
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