.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

FIAR, TECER E CORTAR...


A dissertação sempre é um bom teste. Não que precisamos de provas para nos provar competentes, mas, se for necessário, que seja escrevendo. Ali, em nossas verdades “escrivinhadoras”, podemos ser mais, mostrar o que realmente sabemos e transparecer, também, o que se perde em nós. Não há sorteios nem chutes diante de uma folha branca de papel. A única maneira de arriscarmos a sorte enquanto nos organizamos através dela é se a amassarmos em uma bolinha imperfeita para, em seguida, arremessá-la em uma lata qualquer de lixo.
Vencer o nada é como preencher o vazio com suas tintas. “Ao vencedor, as batatas!” – se é que me entendem, uma vez que não se mata fome alguma sabendo que seu destino foi traçado por uma jogada de adivinhações.
Dizem que o pecado preferido do diabo é justamente a vaidade, entretanto, para se entender existencialmente acima disso é necessário fiar, tecer e cortar. Refiro-me às Moiras, entidades da mitologia grega responsáveis pelo destino: a primeira puxava; a segunda tecia; e a terceira cortava o cordão da vida. Tal como uma tessitura feita por nós. Fiamos, tecemos e cortamos. Nenhuma tapeçaria pode se igualar a isso, já que, para fora das adivinhações, não existem bordados produzidos às cegas. Se há, são indignos, cheios de rebarbas, nódulos e em iminente estado de “desfiação”.
 É preciso ter ouvidos muito sabidos para sentar ao lado de uma velhinha bordadeira – nossas Moiras do cotidiano – porque, ao tempo que o novelo apequena-se, ela também vai tecendo uma fala costurada pra nós: fios puxados para dois tipos de vestes; duas linhas que vão se acabando enquanto aquele novelo durar na sua voz.
Adoro a sabedoria das velhinhas bordadeiras, tecem magistralmente, mas têm a mesmas chances de todos em um jogo de dados, contrário a seu ofício, fruto de maturação e concentração.  
Contudo, quando encontramos no mundo um ser que tenha a dignidade de uma dessas velhinhas, até ficamos orgulhosos e felizes, pois estão bem vestidos. Suas produções cobriram e depois descobriram uma nova tendência, uma moda que dificilmente cairá: o estilo de quem se veste muito bem por dentro.

Enfim, gosto da honestidade daqueles raros dedos que sabem fiar, já que são incapazes de embaralhar-se em baralhos de adivinhos dos que se creem qualificados para qualquer tipo de função.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Divida conosco suas impressões sobre o texto!