A dissertação sempre é
um bom teste. Não que precisamos de provas para nos provar competentes, mas, se
for necessário, que seja escrevendo. Ali, em nossas verdades “escrivinhadoras”,
podemos ser mais, mostrar o que realmente sabemos e transparecer, também, o que
se perde em nós. Não há sorteios nem chutes diante de uma folha branca de papel.
A única maneira de arriscarmos a sorte enquanto nos organizamos através dela é se
a amassarmos em uma bolinha imperfeita para, em seguida, arremessá-la em uma
lata qualquer de lixo.
Vencer o nada é como preencher
o vazio com suas tintas. “Ao vencedor, as batatas!” – se é que me entendem, uma
vez que não se mata fome alguma sabendo que seu destino foi traçado por uma
jogada de adivinhações.
Dizem que o pecado
preferido do diabo é justamente a vaidade, entretanto, para se entender
existencialmente acima disso é necessário fiar, tecer e cortar. Refiro-me às
Moiras, entidades da mitologia grega responsáveis pelo destino: a primeira
puxava; a segunda tecia; e a terceira cortava o cordão da vida. Tal como uma
tessitura feita por nós. Fiamos, tecemos e cortamos. Nenhuma tapeçaria pode se
igualar a isso, já que, para fora das adivinhações, não existem bordados
produzidos às cegas. Se há, são indignos, cheios de rebarbas, nódulos e em
iminente estado de “desfiação”.
É preciso ter ouvidos muito sabidos para sentar
ao lado de uma velhinha bordadeira – nossas Moiras do cotidiano – porque, ao
tempo que o novelo apequena-se, ela também vai tecendo uma fala costurada pra
nós: fios puxados para dois tipos de vestes; duas linhas que vão se acabando enquanto
aquele novelo durar na sua voz.
Adoro a sabedoria das
velhinhas bordadeiras, tecem magistralmente, mas têm a mesmas chances de todos
em um jogo de dados, contrário a seu ofício, fruto de maturação e concentração.
Contudo, quando
encontramos no mundo um ser que tenha a dignidade de uma dessas velhinhas, até
ficamos orgulhosos e felizes, pois estão bem vestidos. Suas produções cobriram
e depois descobriram uma nova tendência, uma moda que dificilmente cairá: o estilo
de quem se veste muito bem por dentro.
Enfim, gosto da honestidade
daqueles raros dedos que sabem fiar, já que são incapazes de embaralhar-se em
baralhos de adivinhos dos que se creem qualificados para qualquer tipo de
função.
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