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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

OS TORTOS DA VIDA


Não posso ler mais crônicas, elas me inspiram. Daí fico escrevendo como um louco, ‘cronicando’, 'poemando'. Assim, obstinado pelos "dentros", acabo esquecendo-me de viver para fora. Que doenças doidas essas que tenho: a de existir para as letras; e a de sentir prazer nisso. Contudo, quando mais me esvazio, mais me encho; quando não escrevo, leio; quando não leio, escrevo. É, acho que nasci torto!
Dizem que só nascemos de fato depois que nos darmos conta de que existimos, quando pensamos nossa existência. Acho que Descartes tinha certa razão em seu “penso, logo existo”. Não, meus caros, as pedras não pensam, elas estão ali, existindo, porque você as faz assim. Tu pensas sobre ela, logo ela está lá, e existe. Tudo é assim. Só para as crianças as coisas existem mais profundamente, basta uma única vontade de fazê-las, de trazê-la à existência, e pronto, elas ganham vida, cores e voz. Já li muitas pessoas que se vestem como meninos para escrever: Mia Couto, Ruth Rocha, Sérgio Capparelli, Lygia Bojunga e, entre outros, Manoel de Barros.
O primeiro (o Couto) brincou com os silêncios, disse que eles eram “música em estado de gravidez”. A segunda, até onde eu sei, trouxe os clássicos da literatura para a mais bonita das verdades: a da infância. Capparelli nos fez/faz visitar os garotos que já fomos. Lygia é a moça que sabe tirar um universo inteiro de sua bolsa mágica amarela. E Manoel, o poeta “ameninado”, levou muita água na peneira por acreditar que a poesia surgia quando um menino errava na gramática. Sim, todos uns tortos na vida!
Claro! Entendo os poetas-meninos(as), pois o tempo sentido pelas crianças é o mais sabido, pois ele permite que elas explorem cada cantinho de seus 'agoras'. Ah, a rotina escurece muitos desses nossos lugarzinhos! Ela não mastiga, não deixa os sabores na boca, ela nos engole e ainda nos quer certos de uma "maturidade" esburacada e cheia de 'amanhãs' insípidos e cegos.
Ainda bem que temos os poetas e as crianças para esticarem os dias pra nós. Sem eles (no que incluo a música) a vida, certamente, seria um baita de um erro – ou, na menor das perdas: breve, magra, pálida, doente e RETA.


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