Há alguns meses,
durante uma disciplina no Curso de Comunicação Social, uma aluna veio até mim e
disse: “Adoro as imagens de seus gatos antes de começar a matéria!” Sim, sempre
punha uma foto de algum de meus felinos, geralmente à frente dos livros que os
tempos e as paixões me fizeram amar e acumular. O próprio Fernando Pessoa já
fez um poema elevando a precisão ponderada dos gatos.
O escritor argentino,
Júlio Cortázar tinha também seu companheiro, – quantos livros não escreveram
juntos! – seu nome era Adorno (nitidamente uma de suas influências, já que
Theodor Adorno foi um grande pensador). Belo nome para o gato de um gênio
literário. Saiba que os cães e os gatos são seres tão completos a ponto de
continuar completando a nós, "os poderosos humanos". Sorte sua se um
dia conseguir ser adotado por um amigo desses. Eles são generosos. Valorize
isso, ou fique sozinho, é melhor para os dois! Mas se sentir-se no direito,
fique com eles. Leia com eles. Deixem que afinem os seus silêncios como os meus
se afinam, como fazem os bichanos de minhas amigas Dóris Paulus e Tânia Lisboa.
Aliás, a Tânia tem um gatinho chamado Horácio, personagem principal de uma obra
do mesmo Cortázar, o mesmo autor que falamos acima. Coincidência? Não, apenas
uma verdade que se multiplica. Quem vive a Literatura, quem a ama, precisa de
silêncio para se encontrar nas vozes da quietude de um livro. Sempre precisamos
que alguém os aprume para nós. Assim é. Os literatos vão me entender. Sabem que
os gatos ‘devagarinham’ cada eternidade, freiam o que seriam ‘daqui-a-poucos’.
Não, eles não gostam de dar de comer a nenhum depois. ‘Agorar’ futuro é tolice
de gente.
Quanto aos cafés, não
os entendo como simples bebida. Podem-se degustar vários tipos de prazeres,
tais como a cafeína é para mim. Digo café, porque não há cheiro mais
companheiro e atraente. Gatos, as clarezas escuras dos ‘dentros’ de uma xícara
e a Literatura, todos são velhos amigos. Confesso que ando diminuindo, não
serei como Balzac, louco, dizem que consumia o equivalente a 300 cafezinhos por
dia – morreu disso. Vai ver que foi por isso que nos deixou um acervo tão vasto
e magnífico...
Deu, devo encerrar por
aqui, minhas divagações vão longe se continuar nessas linhas. Contudo, quero que
saibam que não precisam enxugar minha fórmula criativa para a vida de vocês.
Procurem os seus próprios aromas, os seus próprios cafés. Só não se esqueçam de
uma coisa: sempre tenha um gato para ler contigo. Não há melhor ouvinte.
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