Períodos
de férias têm dessas coisas. No início tudo bem, precisamos mesmo descansar.
Depois. Ah, os depois! São eles que nos “emalucam” as ideias e o resto dos
dias, esses que deveriam ser de puro ócio. Sem saber direito o que fazer, os
pensamentos vão se fazendo sabidos dentro de nós – ou pelo menos tentam se
saborear de outras maneiras.
Eu
mesmo. Outro dia, em um passeio combinado com a família (a grana nos programa
os programas), fomos até a cidade de Soledade. Motivo: visitar a mãe de minha
esposa. Sim, na casa de minha sogra (procurarei não fazer piadas disso, pelo
menos vou tentar). Antes de ir, sabendo que passaríamos três dias, reuni alguns
livros e pus junto a escovas de dente, roupas e afins. Levei quatro de meus
favoritos. “O Idiota”, de Dostoievski; “O fim do ciúme e outros contos”, de
Proust; “Contos de amor, de loucura e de morte”, de Quiroga; e, finalmente, um
que há tempos andava escondido em minha estante, o “Como Apreciar a Arte”, de
Armindo Trevisan. Abri um, li algumas partes de outros, explorei alguns
prefácios e me decidi. O único que eu ainda não havia lido era o último deles,
o do Trevisan. Folheei a primeira página e, vejam a surpresa, deparei-me com
uma dedicatória muito bonita feita por um colega querido meu. Dizia o seguinte:
“Ao amigo e mestre Dilso, repasso este, que para mim, é um livro, mas que para
sua refinada sensibilidade, é um tesouro! Obrigado pela convivência de ontem,
hoje e, se o futuro permitir, amanhã. Um Abraço.” Depois de um depoimento tão
gentil e dedicado, não, não pude negar a leitura.
Dizem
que escrever em livros que são nossos, não é vandalismo, alguns chamam de
contribuição intelectual. Eu prefiro que seja um registro daqueles que fomos da
primeira vez que os lemos. Lendo novamente, seremos visitantes daqueles que
fomos. Assim foi. Peguei uma caneta e passei a observar cada período que me
interessava. Não teve jeito, no terceiro dia, depois de horas e horas de puro
prazer, percebi que o livro já estava todo riscado, riscos meus, palavras
minhas que se misturavam às tintas do autor. Olhei, reli algumas e percebi uma
beleza única, pois naquele momento soube apreciar uma obra que se misturava
comigo. Lindo demais! Presente maravilhoso que quase esqueço, ironicamente,
entre outras grandes vozes igualmente bonitas! Sorte que ele me viu e me trouxe
junto com ele, ou eu o trouxe, não sei bem.
Indico
com toda a alegria essa obra que, para mim, tem um sabor todo especial. Bom
deguste! Eis uma boa leitura para as férias. Obrigado pelas vozes, Eduardo,
fiquei mais rico! Presente maravilhoso que a rotina fez dormir –, mas que me
acordou!
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