Quando
adolescentes nos entregávamos. Adultos, de tanto nos perdermos, acabamos
acordando certo medo de amar, medo das pequenas mortes e dos pequenos vícios:
desassossegamos. Assim, cansados, preferimos a entrega desconfiada para que não
se faça mais um furo indesejado na peneira.
Sim,
meus caros! Não sabemos mais de amores; de pescar folhas nos chafarizes;
esquecemos-nos da essência (não-primitiva) de criar; e de inventar o que os
outros não podem ver. Insisto na negação da palavra ‘primitiva’, porque quem
cria depois de adulto, já está deveras evoluído para poder sossegar. Claro que
depois disso não há quietude, pois, geralmente as pessoas maduras, voltam a
desassossegar-se. Se algo estiver parado, trocam de olhos para ver melhor. Se o
mundo mostra-se andando, dão rumos novos para os caminhos que se “enveiam”,
alguns deles (os caminhos) até permanecem para caminhar-se e brincar ali dentro
desses “infanto-maduros” da terceira idade. Não há tempo melhor para apreciar
poesia do que na velhice. Não existe tempo mais rico (o tempo de uma vida
inteira) para constatar que ‘tudo vale a pena se a alma não é pequena.’
Excelente momento, acho, para perceber-se em Fernando Pessoa.
Pois
bem! Mas quem foi esse Fernando Pessoa? Ah, ele foi um poeta ímpar, também fez
pares e alguns “entre-lugares”! Tanto, que não é justo retratá-lo apenas como produtor
de poetas e poemas. Sim, Pessoa foi muitas pessoas, entregou-se a muitos
heterônimos. Heterônimo no sentido de que todos eles são diferentes um do
outro. Diferentes do pseudônimo, que retrata o pensamento de um mesmo escritor,
só que com nome distinto. ‘Pseudo’ quer dizer falso, o que para Pessoa não
serve, uma vez que ele foi único em cada criação. Portanto, para falar do poeta,
eis a primeira regra: devemos usar a palavra ‘heterônimo’ e estar abertos para
desassossegar.
Enfim,
ficamos com o “Livro do Desassossego”, não por ser o melhor ou o pior deles,
mas por ser aquele que me toca toda vez que me abro nele. Acima, sutilmente,
recomendei que nos refizéssemos com leituras e vozes que brotam de poemas. Então!
O Desassossego do livro de Pessoa é o que sugiro, já que não se trata de uma
obra de poemas (no sentido formal do termo), contudo, de textos e alguns
fragmentos bastante poéticos. Ideal para a vida e para as almas grandes.
Abrindo-o vai receberá um amigo. Abrindo-se para ele, perceberá uma mudança
inquieta na maneira de ser e permanecer no mundo. É, meus amigos, um pouco de
poesia é sempre bom para rejuvenescer, para sair do sossego! Saibam: em lugar
de muita quietude, nenhuma alma prolifera – então o mundo emudece e você morre
de vez.
Boa
Leitura!
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