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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

UM POUCO DE DESASSOSSEGO


Quando adolescentes nos entregávamos. Adultos, de tanto nos perdermos, acabamos acordando certo medo de amar, medo das pequenas mortes e dos pequenos vícios: desassossegamos. Assim, cansados, preferimos a entrega desconfiada para que não se faça mais um furo indesejado na peneira.
Sim, meus caros! Não sabemos mais de amores; de pescar folhas nos chafarizes; esquecemos-nos da essência (não-primitiva) de criar; e de inventar o que os outros não podem ver. Insisto na negação da palavra ‘primitiva’, porque quem cria depois de adulto, já está deveras evoluído para poder sossegar. Claro que depois disso não há quietude, pois, geralmente as pessoas maduras, voltam a desassossegar-se. Se algo estiver parado, trocam de olhos para ver melhor. Se o mundo mostra-se andando, dão rumos novos para os caminhos que se “enveiam”, alguns deles (os caminhos) até permanecem para caminhar-se e brincar ali dentro desses “infanto-maduros” da terceira idade. Não há tempo melhor para apreciar poesia do que na velhice. Não existe tempo mais rico (o tempo de uma vida inteira) para constatar que ‘tudo vale a pena se a alma não é pequena.’ Excelente momento, acho, para perceber-se em Fernando Pessoa.
Pois bem! Mas quem foi esse Fernando Pessoa? Ah, ele foi um poeta ímpar, também fez pares e alguns “entre-lugares”! Tanto, que não é justo retratá-lo apenas como produtor de poetas e poemas. Sim, Pessoa foi muitas pessoas, entregou-se a muitos heterônimos. Heterônimo no sentido de que todos eles são diferentes um do outro. Diferentes do pseudônimo, que retrata o pensamento de um mesmo escritor, só que com nome distinto. ‘Pseudo’ quer dizer falso, o que para Pessoa não serve, uma vez que ele foi único em cada criação. Portanto, para falar do poeta, eis a primeira regra: devemos usar a palavra ‘heterônimo’ e estar abertos para desassossegar.   
Enfim, ficamos com o “Livro do Desassossego”, não por ser o melhor ou o pior deles, mas por ser aquele que me toca toda vez que me abro nele. Acima, sutilmente, recomendei que nos refizéssemos com leituras e vozes que brotam de poemas. Então! O Desassossego do livro de Pessoa é o que sugiro, já que não se trata de uma obra de poemas (no sentido formal do termo), contudo, de textos e alguns fragmentos bastante poéticos. Ideal para a vida e para as almas grandes. Abrindo-o vai receberá um amigo. Abrindo-se para ele, perceberá uma mudança inquieta na maneira de ser e permanecer no mundo. É, meus amigos, um pouco de poesia é sempre bom para rejuvenescer, para sair do sossego! Saibam: em lugar de muita quietude, nenhuma alma prolifera – então o mundo emudece e você morre de vez. 
Boa Leitura!  



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