Nenhum pai pode ser
mais feliz do que eu. Há algum tempo, absorvido por um livro que falava
razoavelmente sobre as façanhas de alguns filósofos (tal obra enterrei junto ao
corpo de Sofia, – um pequeno ser que dei o nome de Sabedoria, Sofia,
Sabedoria... E que, aliás, foi o último livro que lemos juntos), comentei com
minha filha sobre Hannah Arendt, uma filósofa judia que acompanhou o julgamento
de Eichmann, um comandante nazista julgado pelo povo judeu em Jerusalém. Ele
foi o responsável por enviar um trem lotado de pessoas para as câmaras de gases.
Como minha pequena havia se empolgado com “A carta de Anne Franke”, também
relato judeu, pensei que fosse gostar da novidade. Dito e feito, mais tarde a
Eduarda se instrumentalizou, comprou, primeiramente, a obra, “A Condição
Humana”. E, Como pai, claro, passei a adquirir todos os livros que encontrava
da autora.
Pelo seu relato, os
trabalhos (em uma disciplina de Seminário Aplicado à Educação, aulas
ministradas somente aos alunos do Ensino Médio) não foram muito acreditados.
Afinal, ninguém conhecia a escritora, nem de longe. Contudo, continuou mesmo
assim, não para ganhar medalhas ou honrarias, mas para aprender a essência do
que tanto atrai a atenção dessa menina: as injustiças praticadas na “Segunda
Guerra”.
Condicionada à
“Condição Humana”, ela seguiu. Trabalhava em seu quarto. Lia. Pesquisava,
inclusive, na biblioteca pública (onde não existe material sobre Hannah) e
acabou por concluir. Não sei bem o que pensou seu professor disso tudo. Sei que
amei a peregrinação intelectual da moça, tanto que a conto por aqui. Sempre
achei que deveríamos conhecer o mundo, mesmo os mais complexos, que são os mais
simples no final das contas. Porque a simplicidade é que é complexa, acho!
Sim, creio que todos
nós ganhamos com isso. Eu mais, uma vez que minha primogênita soube levar uma
pequena inquietação minha para além das montanhas. Bem certo que não foi tão
visitada em seu estande de apresentações, mas creio que o estranhamento com o
novo sempre é natural. Afinal, Hannah Arendt, já em sua época, foi incompreendida
como a pesquisa de minha menina, tudo por acreditar que julgar um homem por sua
patente militar é o mesmo que condená-lo a não ser ele, e sim uma farda. Eis
toda a banalidade do mal e a conclusão que chegou a Eduarda.
Enfim, só posso é
indicar a leitura dessa filósofa, tanto que, lendo-a, não apenas tu refletirás
sobre os flagelos de uma guerra cruel, mas sobre suas próprias lutas interiores
para compreender, racionalmente, as atitudes de seu semelhante. Fica a dica!
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