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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O PROFESSOR DOENTE


Sofro de uma felicidade crônica, do tipo que vai e vem. Quando ela está aqui fico olhando para a verdura do gramado, tal como um bobo, como um idiota; quando se vai, escrevo como um compositor de fados, um fado para vozes femininas (que são mais nobres), daqueles bem tristes e sofridos mesmo. Sim, pelos meus cálculos até aqui, acho que tenho sorte, a vida anda bem, anda mal, anda musicando-se. Talvez eu esteja apaixonado pelas palavras, estas tortas (ou minhas vistas é que são? Não sei bem)!
Saibam que meus escritos, geralmente, são lascas que tirei a marteladas. Algumas caíram de partes envernizadas, até; outras (as feias), já foram unhas que cortei, estavam me machucando. Assim, quem me lê (vejam bem!) perde tempo e pluraliza uma dor que tirei à força de mim. Gasta vida com limalhas. As limalhas de um professor que não desliga; que está doente da alma (porque “phatos” é doença, e também a raiz da paixão).
Pelo menos para mim, ser professor é como estar em uma gangorra e sentir prazer tanto no alto quanto no baixo. É amar em todos os níveis. É nivelar-se a cada tamanho e, às vezes, até negar-se um pouco para que todos ganhem certa altitude no outro extremo do brinquedo. Fácil? Não é mesmo. Se um piano só se afina com muita escuta, imaginem uma orquestra inteira. Eis por que escrevo, leio. Contrário a isso, não posso pedir para que ninguém invista seu tempo lendo e escrevendo. Preciso amar tudo, amar para que os outros amem, não só pelo que digo, mas pelo que faço. Pelo ato e prazer no fazer.
Confesso até que se eu fosse outro para fora de mim gostaria que ele fosse, também, professor. Desse modo, certamente, os cafés teriam o dobro do cheiro e dos sabores finos da profissão – seja quando estão amargos, seja quando doces. Prometi para esses (outros que me habitam) que não ia mais afinar alegrias assim, mas eles não me ouvem. Os arteiros andam a utilizar meus dedos para vozear seus refestelamentos para fora deste aqui. Sim, a escrita é uma necessidade de continuar existindo pela voz de alguém. Para isso, não é preciso sentir-se escritor ou poeta. Nem pensar-se mestre ou doutor. As palavras precisam tocar o outro, porque é nele que nos inscrevemos, seja falando, deixando-se vazar pelos poros ou pela textura inconsciente de uma folha branca de papel – com a simplicidade que nos exige a pele de alguma folha branca de papel.

Minha doença se transmite quando alguém me lê ou ouve sobre minhas paixões! Não se adoentem comigo. “Cronico” saudades dos alunos que tive e que ainda vou ter.

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