Sofro de uma felicidade
crônica, do tipo que vai e vem. Quando ela está aqui fico olhando para a
verdura do gramado, tal como um bobo, como um idiota; quando se vai, escrevo
como um compositor de fados, um fado para vozes femininas (que são mais
nobres), daqueles bem tristes e sofridos mesmo. Sim, pelos meus cálculos até
aqui, acho que tenho sorte, a vida anda bem, anda mal, anda musicando-se.
Talvez eu esteja apaixonado pelas palavras, estas tortas (ou minhas vistas é
que são? Não sei bem)!
Saibam
que meus escritos, geralmente, são lascas que tirei a marteladas. Algumas
caíram de partes envernizadas, até; outras (as feias), já foram unhas que
cortei, estavam me machucando. Assim, quem me lê (vejam bem!) perde tempo e
pluraliza uma dor que tirei à força de mim. Gasta vida com limalhas. As
limalhas de um professor que não desliga; que está doente da alma (porque
“phatos” é doença, e também a raiz da paixão).
Pelo
menos para mim, ser professor é como estar em uma gangorra e sentir prazer
tanto no alto quanto no baixo. É amar em todos os níveis. É nivelar-se a cada
tamanho e, às vezes, até negar-se um pouco para que todos ganhem certa altitude
no outro extremo do brinquedo. Fácil? Não é mesmo. Se um piano só se afina com
muita escuta, imaginem uma orquestra inteira. Eis por que escrevo, leio.
Contrário a isso, não posso pedir para que ninguém invista seu tempo lendo e escrevendo.
Preciso amar tudo, amar para que os outros amem, não só pelo que digo, mas pelo
que faço. Pelo ato e prazer no fazer.
Confesso
até que se eu fosse outro para fora de mim gostaria que ele fosse, também, professor.
Desse modo, certamente, os cafés teriam o dobro do cheiro e dos sabores finos
da profissão – seja quando estão amargos, seja quando doces. Prometi para esses
(outros que me habitam) que não ia mais afinar alegrias assim, mas eles não me
ouvem. Os arteiros andam a utilizar meus dedos para vozear seus refestelamentos
para fora deste aqui. Sim, a escrita é uma necessidade de continuar existindo
pela voz de alguém. Para isso, não é preciso sentir-se escritor ou poeta. Nem
pensar-se mestre ou doutor. As palavras precisam tocar o outro, porque é nele
que nos inscrevemos, seja falando, deixando-se vazar pelos poros ou pela
textura inconsciente de uma folha branca de papel – com a simplicidade que nos
exige a pele de alguma folha branca de papel.
Minha doença se transmite quando alguém
me lê ou ouve sobre minhas paixões! Não se adoentem comigo. “Cronico” saudades
dos alunos que tive e que ainda vou ter.
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